Crise não impedirá crescimento de seguro de pessoas e previdência, diz presidente da FenaPrevi

Por Márcia Alves

Recebido pelo presidente Dilmo B. Moreira e diretoria do CVG-SP em almoço no dia 3 de março, no Terraço Itália, o presidente da Federação Nacional de Previdência e Vida (FenaPrevi), Osvaldo Nascimento, manifestou seu otimismo em relação às perspectivas de manutenção do crescimento do mercado de seguros, apesar da crise econômica. Em sua participação no evento do CVG-SP, pelo terceiro ano consecutivo, Nascimento apresentou o tema O mercado de Seguro de Pessoas e Previdência para 2015 na visão da FenaPrevi . Desta feita, porém, ele expôs questões inéditas e estruturais no contexto político e econômico brasileiro, responsáveis pelo clima de pessimismo que tomou conta do país.

O dirigente revelou que não compartilha do desalento da população com os desdobramentos da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. De um ponto de vista diverso, ele acredita que o episódio tem seu lado positivo, que é mobilizar a sociedade no combate à corrupção e na melhoria da governança nas empresas públicas e privadas. A sociedade está dando um passo na direção correta e avançando , disse. Nascimento observou que a situação seria menos desgastante se o Brasil fosse adepto de acordos de leniência, como os Estados Unidos, por exemplo, que no caso da crise do subprime, penalizou empresas, sem paralisar suas atividades. É uma forma de preservar a integridade das empresas para que não haja impacto econômico à sociedade , disse.

O mais preocupante, em sua opinião, é o complicado momento atual econômico do país, o qual atribui à combinação de diversos fatores negativos. O principal, a seu ver, é a queda do preço internacional do barril de petróleo, que desceu de US$ 100 para US$ 50 nos últimos meses. Embora a economia brasileira não seja dependente da conta petróleo, como a Rússia e Venezuela, por exemplo, o país sofre os efeitos indiretos da redução de investimentos da Petrobras, sobretudo no pré-sal.

Considerando a grande participação da Petrobras e de toda cadeia de fornecedores e distribuidores no PIB, em torno de 12%, Nascimento observa que haverá efeitos negativos. Além do impacto econômico e fiscal, por causa da redução do recolhimento de tributos da Petrobras, os efeitos mais nefastos seriam sentidos pela população, devido à diminuição do volume de empregos, da renda e do nível de consumo.

Pesa também, segundo ele, o resultado do plano de governo para corrigir os rumos da economia, que retirou os subsídios na área energética, causando o aumento da conta de energia elétrica. Outra medida foi a elevação de preços dos combustíveis, que foram mantidos artificialmente mais baixos por um longo período para conter a inflação. Portanto, o efeito petróleo na cadeia de investimentos da Petrobras tem um peso relevante, mas pouco discutido pela imprensa, que ainda gasta mais tempo tratando do Lava Jato, um problema mais pontual , concluiu.

Por outro lado, Nascimento mantém o otimismo e acredita na tendência de mudança. Sabemos que o preço do petróleo vai subir, mas não sabemos quando , disse. Por hora, ele teme apenas o rebaixamento da classificação de risco do país. Perder a condição de investment grade seria o pior cenário possível. Mas não acredito que isso aconteça, pelo menos não em 2015. Nosso país tem uma economia muito diversificada e com grande capacidade de recuperação , frisou.

Impacto para os seguros

Para o presidente da FenaPrevi, a queda do poder aquisitivo refletirá na capacidade de compra da população, afetando todos os segmentos, como o de veículos novos, por exemplo, cujas vendas já caíram 10%, e também o setor de seguros. Porém, o setor já deu provas de que consegue resistir e reagir a situações adversas. No último ano, previdência, capitalização e saúde foram os segmentos que mais cresceram. Esperamos para este ano algo parecido, com um crescimento na faixa de 10%, o que é bastante positivo , disse.

Os resultados alcançados pela previdência em 2014, um ano depois da maior crise que se abateu sobre o segmento, provam, na avaliação de Nascimento, que o setor está preparado para enfrentar adversidades. Segundo ele, entre 2012 e 2013, no ápice da crise, quando os resgates superaram as contribuições, houve um aumento receita da previdência de R$ 70,4 bilhões para R$ 73,7 bilhões. Entendo que 2013, diante do que aconteceu, foi um ano bom , disse.

Em 2014, a receita atingiu R$ 83,5 bilhões, não em função de maior captação, mas, segundo Nascimento, em virtude da redução dos resgates. O trabalho de educação financeira fez cair significativamente o volume de resgates , explicou. Deste resultado, o maior volume corresponde ao VGBL, que respondeu por mais de 85% da receita. Nesse período, as reservas técnicas do segmento alcançaram R$ 431 bilhões. A expectativa de Nascimento é que nos próximos cinco anos as reservas atinjam R$ 1 trilhão.

Um dado interessante apresentado por ele é o crescimento da participação do seguro prestamista (28,8%) na composição dos prêmios acumulados no ramo de pessoas, que somaram R$ 27,7 bilhões. Depois do seguro de vida (40,6%), o prestamista foi o ramo que mais cresceu, superando até o seguro de acidentes pessoais (17,9%). O crescimento não ocorreu pelo canal tradicional dos corretores, mas pela venda de seguros conjugados, especificamente de crédito , informou.

Propostas da FenaPrevi

Nascimento apontou as duas principais prioridades da FenaPrevi: investir em educação financeira e desenvolver produtos cada vez mais adequados ao perfil do cliente. A educação é um grande gap em praticamente todas as áreas de negócios de nosso país. Por isso, melhorar a qualidade da comunicação e a transparência dos produtos para que o consumidor saiba o que está comprando são as metas , disse. Na linha de produtos, a FenaPrevi deseja a regulamentação de nova família de planos, tanto de vida como de previdência, com características de mais longo prazo. Mas, Nascimento reconhece que dependerá de mais estabilidade econômica e da maturidade dos brasileiros em relação a produtos que remetem a investimentos de longo prazo.

O dirigente adiantou que ainda neste semestre a entidade poderá conseguir a aprovação de uma família de annuities (rendas programadas). O mercado de seguro de vida tem muitos produtos, mas ainda não tem um seguro de renda programada , disse. Ele também anunciou que o VGBL Saúde será aprovado em breve e acredita que seja ainda neste semestre. Já o Universal Life aguarda apenas a avaliação da área jurídica da Susep, que é a última etapa para entrar no mercado.

Outra proposta que depende de regulamentação são os planos voltados à filantropia. A ideia é viabilizar a doação de recursos a entidades regulamentadas, como hospitais e universidades, por exemplo, de forma programada. A experiência mostra que a doação à vista não atinge o propósito , disse. Para beneficiar os poupadores, a FenaPrevi também criará a figura do empréstimo lastreado em produtos de previdência. Trata-se da oferta de recursos da Provisão Matemática de Benefícios a Conceder (PMBAC) como garantia de empréstimos e financiamentos junto a instituições financeiras. O cidadão poderá resgatar o plano ou seguro de vida sem perder o beneficio tributário , explicou.

Outra novidade que beneficiará o segmento empresarial será a viabilização do VBGL para pessoa jurídica. A regulamentação da previdência inviabiliza o produto corporativo porque entende as contribuições previdenciárias como remuneração, obrigando as empresas a recolherem tributos , disse. Nascimento acredita que não haverá empecilho à aprovação do produto.

Por fim, um dos desafios da FenaPrevi está relacionado à aplicação de recursos de provisões, reservas técnicas e fundos em ativos garantidores. Para tanto, Nascimento entende que será preciso adotar regras de alongamento e desindexação para a aplicação de recursos de fundos de investimento especialmente constituídos (FIEs) em modalidade de renda fixa. Segundo ele, as regras devem atender a necessidade de manutenção e respeito às normas vigentes e, ainda, as novas disposições aplicáveis apenas a planos voltados à acumulação de recursos, estruturados e contratados sob novo regramento.

Concluindo sua apresentação, Nascimento reforçou que os três maiores desafios da FenaPrevi são difundir a educação financeira, criar produtos adequados ao perfil do consumidor e equacionar a distribuição de seguro de vida. O vida individual é mais vendido pelo canal bancassurance, porque o corretor de seguros é mais focado nos ramos patrimonial e seguro de vida em grupo. Então temos analisar junto à Fenacor uma melhor forma de distribuição para mudar esse produto de patamar , disse. Ele destacou, ainda, que sem melhoria na distribuição conjugada com a transparência no processo de venda, por meio da qualificação e educação, o mercado não terá significativa participação no PIB .

Crescimento

Dilmo B. Moreira, presidente do CVG-SP, destacou a importância da análise de Nascimento sobre o cenário econômico para situar a evolução do mercado de seguros. Em relação aos novos produtos que estão na agenda da FenaPrevi, ele ressaltou a importância do VGBL Saúde, porque alivia o Estado de uma tremenda carga , e o Universal Life, que, pela atratividade, acredita, impulsionará o mercado .

Compondo a mesa de autoridades, o presidente da AXA seguros, Philippe Jouvelot, se mostrou impressionado com a apresentação de Nascimento. Parabéns ao Osvaldo, que explicou o contexto econômico e como o Lava Jato pode ajudar, apesar da visão pessimista dos cidadãos. Mas, o mais relevante é o que vocês do mercado farão para se desenvolver, por meio da educação financeira e transparência dos produtos. O mercado de vida tende a crescer, mas depende de vocês , disse.

Em relação à educação financeira, o diretor Executivo da Escola Nacional de Seguros (ENS), Renato Campos, fez questão de informar que o mercado tem ativa participação no Comitê Nacional de Educação Financeira (Conef), atualmente presidido pelo superintendente da Susep, Roberto Westenberger. Por meio da CNseg, nosso mercado vem desenvolvendo um grande trabalho de educação financeira. Também a ENS colabora por meio do site Tudo sobre Seguros, que recebe 2 milhões de visitas por mês , disse.

Encerrando o evento, o presidente do CVG-SP entregou ao presidente da FenaPrevi uma placa em sua homenagem. É singelo, mas de coração para marcar a importância deste momento , disse Dilmo B. Moreira.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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