A expectativa se ele aceitará ou não é grande entre os executivos do mercado segurador, segmento da economia que avançou durante o período em que Luiz Carlos Trabuco esteve envolvido, tanto como presidente da Bradesco Vida e Previdência, como da Bradesco Seguros e também agora como presidente do banco, que tem 30% de seu lucro originada do braço segurador. Em março deste ano, Trabuco, aos 62 anos, despontou como favorito a suceder Lázaro Brandão, com 87 anos, sendo os últimos 23 anos na chefia do conselho de administração.
Por essa razão, muitas das pessoas que conhecem Trabuco ficam em dúvida se ele vai aceitar ou não. “O sonho de qualquer executivo do Bradesco é chegar ao conselho. E Trabuco está prestes a isso. Por outro lado ele gosta de desafios e seu sonho é ver o Brasil acontecer, assim como sonhava em ver o mercado segurador brasileiro no patamar que está hoje: nos trilhos e avançando dia a dia. Boa parte disso se deve ao estilo pacificador de Trabuco, que conseguiu mudanças importantes internas e divulgou o setor para órgãos reguladores e investidores de todo o mundo”, disse uma fonte próxima a ele. Trabuco ingressou no Bradesco em 1969 e em 2009 foi escolhido por Brandão para a presidência-executiva.
Leia a seguir a íntegra da matéria publicada na manchete do Valor neste feriado de Consciência Negra em várias cidades brasileiras:
Por Claudia Safatle | De Brasília
O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, foi convidado pela presidente Dilma Rousseff para ser o ministro da Fazenda do segundo mandato, em substituição a Guido Mantega. Na terça feira Dilma teve um encontro, em Brasília, com Lázaro Brandão, presidente do Conselho de Administração do segundo maior banco privado do país, que é quem tem o poder de afastar obstáculos à continuidade da carreira de Trabuco no banco caso ele aceite o convite e decida, depois, retomar o seu posto.
Alexandre Tombini também foi convidado a permanecer na presidência do Banco Central, no segundo mandato de Dilma Rousseff, com uma clara missão: levar a inflação para a meta de 4,5% até 2016.
Até o momento o Palácio do Planalto não fez qualquer anúncio formal a respeito da composição da equipe econômica a partir de janeiro.
Autoridades do governo disseram ontem que a presidente pretende informar a sua escolha para o comando da política econômica do país quando tiver toda a equipe definida com nomes da confiança do novo ministro. Embora o ex-presidente Lula tenha incluído Trabuco em uma lista tríplice de sugestões à Dilma, fontes bem informadas asseguram que ela própria está conduzindo essas articulações. Dilma tem grande simpatia por Trabuco que, afirmam seus amigos, é uma pessoa exemplar como profissional do mercado financeiro e de fácil trato. Falta, ainda, uma conversa pessoal.
Com uma vida toda dedicada ao Bradesco, Trabuco é o candidato natural à presidência do conselho em substituição a Lázaro Brandão. Essa é uma das razões pelas quais amigos próximos ao presidente do Bradesco têm dúvidas sobre se ele aceitou ou aceitará o convite. Uma alta fonte disse, porém, que “estão enrolando o Trabuco na bandeira nacional”, referindo-se ao apelo patriótico a que ele estaria sendo envolvido.
A definição de um nome para o Ministério da Fazenda teria que preencher uma condição: ser um sinal inequívoco de Dilma aos mercados de que seu novo governo dará alguns passos em direção à ortodoxia, abandonando de vez o experimentalismo na gestão macroeconômica e recolocando a política fiscal nos trilhos. Trabuco estaria para o governo Dilma Rousseff como Henrique Meirelles foi para Lula, que assumiu o comando do Banco Central em 2003, em um momento de grande tensão e foi a garantia de racionalidade nas decisões econômicas e de uma convivência mais amigável com os mercados.
Também na terça-feira Dilma reuniu-se por mais de quatro horas com o ex-presidente Lula na Granja do Torto, uma das residências oficiais da Presidência da República em Brasília. Esse foi o segundo encontro entre ambos, o primeiro foi logo após o segundo turno das eleições. Lá estavam o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, o presidente do PT, Rui Falcão, e o governador da Bahia, Jaques Wagner, nome estratégico do novo ministério.
Os temas tratados foram a formação do novo ministério – principalmente a definição do ministro da Fazenda e da equipe econômica – e os desdobramentos da Operação Lava-Jato da Polícia Federal, que apura suspeitas de corrupção na Petrobras.
Dilma foi aconselhada a acelerar a definição do novo ministro da Fazenda para que a nova equipe econômica crie uma agenda positiva e desvie o foco do noticiário dos novos capítulos da Lava-Jato. Se era urgente o anúncio do sucessor de Guido Mantega – diante da crise fiscal e da desconfiança dos investidores – a avaliação agora é de que essa urgência agravou-se, pelo escândalo na estatal e seus reflexos no governo.
A presidente deve divulgar um bloco de nomes até o fim da semana, que além da confirmação de Tombini no BC terá também os novos titulares do Banco Central, do Tesouro Nacional, do Ministério do Planejamento e os presidentes dos bancos públicos. Ninguém espera que cesse, com isso, o noticiário ou a dimensão da ação da Polícia Federal, mas há uma constatação de que a divulgação da nova equipe solucionará uma parte dos problemas de Dilma, a paralisia da economia.
Outra pauta da reunião foi a gravidade da ação que descortinou o esquema de corrupção na Petrobras. A crise é considerada “maior que o mensalão”, que devastou os dois últimos anos do primeiro mandato de Lula. O ex-presidente expôs a preocupação com o segundo governo de sua sucessora, e que a marca de partido corrupto manche o PT. Dilma busca um caminho para se descolar da crise e garantir a governabilidade do novo mandato.
Um impasse não solucionado nesta reunião é o lugar de Jaques Wagner no novo ministério. “É a segunda prioridade, depois da equipe econômica”, diz um auxiliar presidencial. Convocado por Dilma para a reunião de ontem, ele já se firmou como um dos principais conselheiros, ao lado de Lula e Mercadante. Cotado para diversas pastas – Secretaria de Comunicação Social, Ministério das Comunicações, e de Desenvolvimento, Indústria e Comércio -, a única certeza é que Wagner integra o núcleo restrito de conselheiros presidenciais, e terá protagonismo no segundo mandato.
Lula desembarcou na terça-feira sem alarde, em Brasília. Dilma saiu secretamente do Palácio da Alvorada, em automóvel de vidro escuro, sem o comboio avançado que faz a sua escolta. (Colaborou Andrea Jubé)