Segmento deve se preparar para futuro sustentável, com produtos adequados, preços acessíveis, consumidores satisfeitos e empresas capitalizadas

FullSizeRender-3Fonte: Portal da CNseg

Como será o amanhã? Esse foi o tema do talk show que encerrou dois dias de debates sobre como o segmento de seguro de Vida e Previdência aberta deve se preparar para ter um futuro sustentável, com produtos adequados, preços acessíveis, consumidores satisfeitos e empresas capitalizadas. “Vocês precisam se comunicar de forma mais acessível, pois eu tive de consultar o manual de economia para entender o resumo do setor que me enviaram para que eu me preparasse para mediar essa discussão”, comentou Paulo Henrique Amorim, mediador do debate.

O comentário do jornalista contribuiu para promover um bate papo leve, sem os rebuscados termos técnicos que até pouco tempo atrás dominavam a comunicação do setor. Isso trouxe otimismo aos 500 participantes presentes no encerramento do VII Fórum Nacional de Seguro de Vida e Previdência Privada, que lutam para explicar à população a importância desses produtos, mas ainda esbarram na burocracia, na regulamentação e no conservadorismo, que dificultam implementar a simplicidade no programa de educação financeira para dois públicos vitais: o corretor de seguros, responsável por levar o produto ao consumidor, e a emergente classe C, ainda pouco familiarizada com jargões do setor.

Luciano Snel, presidente da Icatu Seguros e vice-presidente da FenaPrevi, que coordenou a organização do evento, afirmou que seu sonho é ver dados de previdência divulgados mensalmente, como hoje acontece na indústria automobilística. “Quando tivermos a imprensa divulgando que tantas pessoas ingressaram no sistema de previdência aberta, que passou a pagar tantas aposentadorias, como uma referência de indicador econômico e social, terei certeza de que conseguimos implementar boa parte do que queremos, que é levar à sociedade a importância do produto com o qual trabalhamos”.

De acordo com os participantes, há um longo caminho a percorrer para que o sonho de Snel se torne realidade. Osvaldo Nascimento, presidente da FenaPrevi, relatou que muito já foi feito desde a criação dos planos PGBL e VGBL. Apesar da difícil nomenclatura, as pessoas já se habituaram a associar as siglas a um plano de previdência. “Os planos estimularam o crescimento da previdência aberta pela padronização, facilitando a venda e fomentando a consciência da cultura de poupar no longo prazo. As empresas de previdência saíram de reservas de R$ 3 bilhões em 2003 para R$ 400 bilhões em 2013. E as projeções de crescimento para os próximos anos são muito otimistas”, comentou.

Com tantas mudanças no mundo e no Brasil, agora é preciso inovar e revisitar o arcabouço de regras do setor, afirmou o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Diogo Oliveira. “O futuro nos remete a uma população mais educada financeiramente e com renda maior, o que cria demanda por produtos de vida e previdência.” Mas é preciso avançar nas discussões para resolver algumas questões importantes. Os desafios envolvem a modernização dos canais de distribuição e questões de “suitability”, termo em inglês que significa adequação, compatibilidade. “O consultor tem de identificar o perfil de risco do cliente para ofertar algo que ele precise e compreenda, considerando-se os riscos. Não é possível mais vender um fundo de renda fixa deixando o investidor pensar que é renda certa. Ele tem de entender que há volatilidade e que o fundo pode apresentar perdas”, frisou Oliveira, acrescentando que o grande objetivo do governo é que a previdência complementar sirva como amortecimento de perda de renda da população na aposentadoria.

Além de incentivar a educação financeira e ter o produto sob medida às necessidades do cliente, é preciso levar o plano de previdência a um número maior de pessoas. A saída para isso, segundo ele, está em tecnologia e redução de custos. “Temos atuado com a edição de regras para pagamentos remotos, via celular, por exemplo, bem como na simplificação das exigências do que tem de constar na papelaria dos produtos. Essas iniciativas facilitam a criação de produtos acessíveis, tanto em relação a preços como em oferta simplificada”, acrescentou.

Rever a questão da tributação dos produtos financeiros é um dos grandes desafios, segundo Oliveira. “Temos muitos títulos no mercado com características semelhantes e que estão submetidos a tributações distintas, criando conflitos quando olhados de forma conjunta. Esse é o ponto que deveríamos atacar na revisão da tributação”, enfatizou. “Consertar isso não é fácil, pois são contratos que estão em andamento e movimentam mais de R$ 1 trilhão. Mas é um desafio que teremos de enfrentar”.

Roberto Westenberger, superintendente da Susep, afirmou que há seis meses, desde que assumiu a autarquia, vem implementando um programa de modernização, solicitado na época de sua nomeação pelo ministro Guido Mantega. A rotina está em simplificar a vida das companhias de seguros ao mesmo tempo em que se aperta o cerco no que diz respeito a proteção do consumidor. “Estamos debruçados também no tema de auto-regulação dos corretores, uma vez que, entre as megatendências para os próximos 20 anos, temos a transferência do poder para o consumidor. Isso exige uma boa oferta por parte dos corretores, que, por sua vez, precisam de bons produtos para convencer o investidor a poupar e se proteger financeiramente dos riscos futuros. Apesar de estarmos felizes por vivermos mais, precisamos ter proteção financeira e seguradoras capitalizadas que assumam parte do risco da longevidade”.

Antonio Cassio dos Santos, ex-presidente da FenaPrevi e ex-CEO para a América Latina do grupo Zurich, alertou para a tendência mundial do setor de Previdência e Vida. Ele citou as consequências do aumento da longevidade e da queda dos ganhos financeiros. “As pessoas estão vivendo mais e a rentabilidade está cada dia mais apertada. O tratamento tributário, algo em debate no Brasil para produtos de vida e acumulação, tende a ser restritivo no mundo em função dos déficits acumulados pelos governos nesses últimos anos de crise financeira. Assim, o grande desafio no mundo está em como gerar lucro capaz de pagar os dividendos que os investidores esperam.”

Nos mercados emergentes, diz Santos, as classes C e D são as mais vulneráveis e que necessitam de cobertura de risco. No entanto, o acesso a essas pessoas é a chave do sucesso da operação. Segundo ele, a inovação na forma de cobrança é fundamental para baratear o custo e assim massificar a venda, tornando a carteira rentável para atrair o corretor. “Temos um céu de brigadeiro nos próximos quarto anos e a regulamentação do agente de vendas vai resolver boa parte da distribuição do mercado”, aposta, acrescentando que investir no cálculo do preço do seguro com base no comportamento das pessoas e não só na idade também é uma tendência para o futuro.

Para finalizar o debate, o presidente da FenaPrevi afirmou que graças ao diálogo entre seguradoras, corretores, clientes, órgãos reguladores e de defesa do consumidor tem sido possível aperfeiçoar o setor. “Temos um superintendente que é conhecedor do setor, o que faz com que as discussões sejam gratificantes. Mas o tripé que garantirá o futuro do nosso setor é a estabilidade da economia, a gestão dos indicadores como emprego e inflação e o respeito aos contratos”.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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