Fonte: Revista IstoÉ
Luiz Gustavo PACETE
Acostumado a fazer seu negócio crescer, vendendo proteção às pessoas e empresas diante da adversidade, o setor de seguros gerais soube crescer exponencialmente em 2013, ano em que a economia brasileira teve uma expansão de apenas 2,3%. Segundo a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), no ano passado o mercado teve um crescimento de 18,9%, mais de oito vezes superior ao PIB. No total, foram emitidos R$ 57,1 bilhões em prêmios. Os bons números, segundo Neival Freitas, diretor-executivo da FenSeg, foram puxados pelos segmentos de automóveis, habitacional e massificados. “Tirando saúde e previdência, nosso setor contempla grande parte dos seguros e os números de 2013 mostram a pujança de um mercado que, mesmo em um momento turbulento da economia, está apresentando avanço considerável.”
Outras áreas menos representativas em volume, mas que se destacam em potencial de crescimento, também brilharam em 2013.0 seguro rural, por exemplo, é uma grande aposta do mercado para os próximos anos. “No ano passado, ele representou um crescimento de 57,6% e tem muito potencial”, diz Freitas. “Atualmente, somente 10% da área plantada tem cobertura de seguros e o governo vem subsidiando o seguro desses produtores.” Os seguros massificados também cresceram significativamente em 2013, com destaque para residencial e coberturas básicas. Para o segundo semestre de 2014, a expectativa é de crescimento, porém, moderado. “Vamos crescer na casa dos dois dígitos, mas haverá uma redução no ritmo de crescimento em função da realidade econômica”, diz Freitas.
O momento de desaceleração será uma oportunidade, na visão de Freitas, para que as companhias de seguros deixem suas operações eficientes e consigam focar novos produtos e serviços. “Temos aproveitado essa tendência de acomodação do setor de seguros para discutir as melhores práticas e ações para o setor”, afirma Freitas. Sem abrir mão do tradicional corretor, as seguradoras vêm investindo maciçamente na distribuição de seguros por meios digitais, de forma a reduzir os custos e a facilitar a massificação do mercado.
Foi essa receita que garantiu, novamente, à Bradesco Seguros a vitória do ranking setorial de AS MELHORES DA DINHEIRO. Segundo Marco Antonio Rossi, presidente da Bradesco Seguros, a companhia conseguiu melhorar significativamente os resultados das apólices de automóveis, o que garantiu o diferencial neste ano. “A carteira de automóveis apresentou uma recuperação importante no segundo semestre do ano passado”, diz Rossi. “Aperfeiçoamos nossa maneira de estabelecer os preços das apólices, o que permitiu mais sofisticação na análise da carteira e dos novos clientes.” Essas alterações permitiram à Bradesco Seguros uma maior precisão na hora de calcular riscos e estabelecer preços, melhorando as margens do produto. “O ano passado foi um período de ajustes, e os frutos deverão ser colhidos em 2014 e em 2015”, afirma Rossi. Segundo o executivo, o novo cálculo não chegou a afetar a maneira de vender apólices a ponto de reduzir as perdas, o chamado índice de sinistralidade, que é a proporção entre apólices vendidas e veículos furtados ou acidentados. “No entanto, conseguimos saber quando cobrar mais pelos riscos ruins e quando ser mais competitivos nos melhores riscos”, diz ele. “Isso é fundamental em nossa estratégia de mercado, pois o seguro automotivo é a porta de entrada do cliente no mercado segurador.”
Outro pilar da estratégia da Bradesco Seguros são os ramos de seguro de vida e previdência privada. “Esses produtos são responsáveis por mais de 50% da nossa arrecadação e dos nossos resultados”, diz Rossi. Para o executivo, essa relevância vem permanecendo inalterada ao longo dos últimos dez anos, e não há sinais de mudança nesse quando. “Uma coisa não tem mudado, que é o grau de preocupação das pessoas com seu futuro, devido especialmente ao aumento da longevidade”, diz Rossi. Ele afirma estar menos animado com alguns produtos que vinham crescendo de forma dinâmica nos últimos anos, como os seguros de garantia estendida. “E um produto importante, que arrecada prêmios significativos, mas a continuidade do crescimento depende de conquistar novas redes varejistas, pois elas são as grandes responsáveis pela distribuição do produto”, diz ele.
Na distribuição, o foco da empresa é ampliar as vendas pela internet e smartphones. “As novas gerações têm uma relação muito próxima com a tecnologia e estão bastante acostumadas a comprar por internet, tablets e smartphones”, diz Rossi. “Nosso desafio é aproveitar todas as oportunidades que não param de surgir nessa área.” Um bom exemplo, na sua opinião, são os títulos de capitalização. Segundo Rossi, 12% essas apostas são fechadas pela internet.
Bradesco Saúde – Doses Maciças
Natália FLACH
Desde o fim do ano passado, um terço dos brasileiros possui carteirinhas de plano médico ou odontológico. Esse número revela que as operadoras alcançaram um grande feito: conseguiram que o número de clientes crescesse 5,6%, para 71 milhões de beneficiários, a despeito do avanço mais modesto, apenas de 2,5%, do Produto Interno Bruto. O resultado dessa conta é que a receita da indústria atingiu R$ 112,8 bilhões, uma alta de 16% em relação ao ano anterior. “Se o País cresce, as empresas contratam mais funcionários e tendem a oferecer esses benefícios na tentativa de reter a mão de obra”, afirma José Cechin, diretor-executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde). “Como a atividade econômica tem caminhado para o interior, os planos de saúde têm crescido nessas regiões.” A expectativa é de que 2014 repita o desempenho do ano passado. Tanto é que, no primeiro trimestre, o mercado de planos médicos já cresceu 4,7%, enquanto o odontológico avançou 8,4%.
Não é de estranhar, portanto, que o carro-chefe do crescimento sejam os planos odontológicos. Enquanto, em 2001, havia um milhão de brasileiros que possuíam planos voltados para o cuidado da saúde bucal, hoje, já passam de 20 milhões. Segundo Cechin, a taxa de crescimento tem sido de dois dígitos,
com exceção dois últimos anos, em que rondou a casa dos 8%, mas a expansão deve continuar. Quando vemos o que aconteceu nos Estados Unidos, tudo leva a crer que o mercado tem espaço para ser ainda maior”, afirma.
Na opinião do executivo Márcio Coriolano, presidente da Bradesco Saúde, vencedora do ranking setorial de AS MELHORES DA DINHEIRO, a situação do setor de saúde suplementar destoa do ritmo da economia. “Os negócios vêm aumentando acima do crescimento populacional, em especial no setor empresarial”, diz Coriolano. Embora o foco preferencial da Bradesco Saúde sejam as grandes empresas com milhares de nomes na folha de pagamentos, o vetor mais importante do incremento nos últimos tempos têm sido as pequenas e médias, que passam por um processo crescente de formalização e de profissionalização. Mais e mais empresas estão oferecendo planos de saúde para seus funcionários, por um simples motivo: há escassez de mão de obra e oferecer um benefício como um plano de saúde ajuda na retenção dos talentos. “A primeira coisa que o funcionário quer saber na hora da contratação, antes mesmo de perguntar quanto vai ganhar de salário, é sobre a política de benefícios”, diz Coriolano.
Os números da Bradesco Saúde impressionam. No primeiro semestre de 2014, a companhia contabilizou R$ 6,9 bilhões em prêmios retidos, um crescimento de 20,4% em relação aos seis primeiros meses de 2013. A carteira total, por seu turno, avançou para 4,36 milhões de segurados, alta de 6,8%, revelando um aumento do faturamento por segurado. No caso dos beneficiários vinculados a pequenas e médias empresas, porém, o avanço foi ainda mais acelerado. O faturamento dos seguros para grupos entre três e 199 vidas cresceu 37,4% nos 12 meses finalizados em junho, passando a atender 828 mil vidas. “Só essa carteira é maior do que quase todas as empresas de saúde do Brasil”, diz Coriolano. “Nossa meta é encerrar 2014 com um milhão de pessoas na carteira.”
O principal desafio do setor é enfrentar a aceleração dos custos da saúde. A chamada “inflação médica” vem superando em larga escala a variação dos índices de preços. Segundo Coriolano, o segredo para um bom desempenho é o ganho de escala combinado com o controle apurado dos custos. “No setor da saúde suplementar, fora do crescimento não há salvação”, diz ele. Impedida por lei de ter uma rede hospitalar própria, a Bradesco optou pelo que Coriolano define como uma “verticalização virtual”. A empresa usa todo o seu poder de fogo para negociar melhores condições com hospitais e laboratórios. Os que oferecem os melhores preços recebem mais clientes. “O tratamento das doenças mais frequentes vem sendo cada vez mais intensivo em capital”, diz ele. “Por isso as empresas que tiverem mais segurados terão mais poder de barganha com hospitais, clínicas e laboratórios”, diz ele.