O sistema de saúde dos Estados Unidos desperdiça entre US$ 543 bilhões e US$ 815 bilhões por ano. O montante representa de 20% a 30% do total aportado no setor ou de 3,6% a 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) americano. Os números fazem parte do estudo “Fontes de desperdício de recursos no sistema de saúde americano”, realizado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar. O levantamento indica que não há fontes para determinar corretamente o desperdício do setor no Brasil, mas destaca que a experiência americana pode servir de base para o aperfeiçoamento na administração tanto do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto da Saúde Suplementar.
As principais razões para o desperdício são falhas assistenciais, de coordenação e de precificação; uso desnecessário de materiais, medicamentos e exames; complexidade administrativa; e práticas fraudulentas ou abusivas. Apenas as falhas assistenciais, como erros durante cirurgias, prescrição e administração incorreta de remédios e falhas na higiene hospitalar, acarretam no gasto desnecessário de algo entre US$ 17 bilhões e US$ 28 bilhões por ano nos Estados Unidos. Além dos recursos que poderiam ser aplicados de forma mais produtiva, essas falhas prejudicam a saúde dos pacientes, podendo acarretar, por exemplo, em infecções hospitalares. Problemas que poderiam ser, ao menos, minimizados com a adoção de protocolos clínicos mais rígidos.
O estudo do IESS aponta, também, que a adoção de Tecnologia da Informação (TI), principalmente para viabilizar prontuários eletrônicos, poderia gerar uma economia de até US$ 18 bilhões por ano, apenas ao facilitar e dar mais segurança à tomada de decisões pelos médicos, que teriam acesso mais rápido e fácil ao histórico de doenças e exames dos pacientes. Além disso, disponibilizar aos pacientes um histórico de eficiência das clinicas e hospitais poderia incentivar a concorrência e a busca por mais qualidade no atendimento.
No Brasil, estima-se que a incidência de eventos adversos preveníveis (EAPs) é de 5%. Ou seja, a cada 100 atendimentos, 5 tem complicações – como infecções hospitalares e administração incorreta de medicamentos – que poderiam ser evitadas com protocolos mais rígidos e adoção de ferramentas de TI para auxiliar os prestadores de serviço de saúde. Contudo, não há bases para calcular qual o valor que tais medidas poderiam poupar.
A concentração de mercado nos Estados Unidos e a assimetria de informações são outros importantes aspectos relacionados ao desperdício de recursos no setor de saúde, uma vez que garantem às empresas margens de lucro muito superiores às encontradas no setor de saúde de outros países, como Canadá por exemplo. Isso gera falhas de precificação, que são mais marcantes em órteses, próteses e materiais especiais (OPMEs). Devido a cláusulas de contrato que permitem aos fornecedores cobrar de cada comprador um valor diferente pelo mesmo material de OPME, pode-se apenas estimar que se todos os prestadores de serviços hospitalares nos Estados Unidos pagassem o preço médio de mercado pelas OPMEs, a economia total de recursos para o sistema de saúde americano seria de aproximadamente US$ 5 bilhões ao ano.
No Brasil, com o objetivo de reduzir a assimetria de informação, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulga os preços praticados pelas produtoras e importadoras de medicamentos, bem como o preço máximo permitido para vendas a farmácias, drogarias e entes públicos. Além disso, a Anvisa divulga, também, os preços máximo, mínimo e médio de alguns materiais médicos, entre eles as principais OPMEs.
Outro gargalo são os gastos administrativos, referentes, principalmente, as horas de trabalho que médicos, enfermeiros e funcionários administrativos despendem em atividades de interação com as seguradoras e programas públicos de saúde, como pedidos de pagamento e de autorização para procedimentos. A automação de atividades administrativas, como o preenchimento de guias, a integração e padronização de rotinas, como os formulários de pagamento por procedimento realizado, e a simplificação de exigências regulatórias, poderiam reduzir os gastos do setor entre US$ 168 bilhões e US$ 180 bilhões por ano. No Brasil, calcula-se que os gastos administrativos equivalham a 12,8% da receita das operadoras de planos de saúde, no setor privado, e a 12,5% do orçamento total da União para as atividades públicas de assistência à saúde.
O estudo realizado pelo IESS aponta, ainda, que mais de 50% dos recursos empregados em remédios são desperdiçados devidos a prescrição, venda ou uso incorretos. Além disso, os desperdícios devidos à fraude alcançam a cifra de US$ 80 bilhões nos Estados Unidos, de acordo com dados do Federal Bureau of Investigation (FBI). Não há fontes para estimar os desperdícios com fraudes no Brasil, contudo, a Controladoria Geral da União (CGU) detectou o desvio de aproximadamente R$ 3,1 bilhões do setor da saúde pública entre 2002 e 2012.
A íntegra do estudo está disponível em: http://www.iess.org.br/html/TD0049Derperdicio.pdf