2013 foi um ano importante para as seguradoras no que diz respeito à sustentabilidade, segundo Adriana Boscov, superintendente de Sustentabilidade Empresarial da SulAmérica, presidente da Comissão de Sustentabilidade da CNseg e conselheira da iniciativa Princípios para Sustentabilidade em Seguros (PSI) da UNEP FI. Segundo ela, o que se percebe é que muitas questões antes vistas como responsabilidade do governo ou de outras entidades têm sido analisadas por seguradoras. “De maneira geral, a consciência das seguradoras sobre os impactos sociais, ambientais e de governança em suas carteiras tem aumentado”, afirma. Veja abaixo os principais trechos da entrevista concedida ao portal da CNseg.
Como avalia 2013 do ponto de vista da sustentabilidade para a indústria de seguros mundial?
Foi um ano de muitas pesquisas, principalmente em relação aos impactos dos eventos climáticos extremos no mundo, além de estudos sobre iniciativas que visam a mitigação e adaptação a esses eventos. Foi também um ano em que mais seguradoras aderiram aos Princípios para Sustentabilidade em Seguros – (PSI, na sigla em inglês) – da UNEP FI. Em junho de 2012 havia 27 seguradoras signatárias e em novembro de 2013 esse número subiu para 38.
Foi um ano de muitos eventos também, não?
Sim, de eventos relevantes realizados em diversos países. Conferências, fóruns e webinars trataram direta ou indiretamente do tema gestão de riscos e sustentabilidade voltados para o setor de seguros.
O que considerou mais importante no ponto de vista de discussões desses eventos?
De modo geral, vale ressaltar que as resseguradoras, instituições acadêmicas e de pesquisa, como a Geneva Association e a Universidade de Cambridge – por meio da iniciativa Climate Wise -, vêm protagonizando discussões sobre o papel da gestão de riscos de eventos climáticos extremos para o setor de seguros. Alternativas para mitigação e adaptação a esses eventos foram tratadas à exaustão por essas instituições e muitos relatórios comprovaram os impactos em vidas perdidas, desabrigados e perdas financeiras. Os custos recaem sobre todos os setores (governo, empresas e sociedade civil) e têm sido cada vez mais altos e frequentes. Regiões como Ásia, Europa e América do Norte já entendem a importância da prevenção e sistemas de alerta para redução das perdas. Na América Latina, ainda não há essa cultura devido à menor incidência dos eventos (com exceção de países como o Chile, que convive com terremotos de grande magnitude há muitos anos e tem um sistema de alerta e pós evento), mas com a entrada de resseguradoras como a Swiss Re, que traz estudos dos impactos locais, algumas seguradoras já começam a tratar da questão, bem como a própria CNseg no Brasil.
E no Brasil, pode fazer uma retrospectiva?
A disseminação das questões ambientais, sociais e de governança (ASG) que impactam o mercado segurador ganhou força em 2013. A CNseg, com o apoio da Comissão de Sustentabilidade, organizou diversos eventos ao longo do ano para discussão desses temas e apresentação de casos práticos no setor segurador. Podemos citar os seguintes encontros: Impactos Jurídicos e Operacionais da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) no mercador segurador; Seminário Riscos de Inundação no Brasil: impactos no mercado segurador, governo e sociedade, realizado em parceria com a Swiss Re; Seminário de Mudanças Climáticas e Desastres Naturais no Brasil: desafios e oportunidades para o setor de seguros, realizado em parceria com a Academia Brasileira de Ciências e a Associação de Genebra; Seminário Executivo de Liderança em Sustentabilidade no Setor de Seguros Brasileiro, em parceria com a Universidade de Cambridge.
Qual o papel da CNseg neste contexto?
Além do intenso trabalho de disseminação da informação, a CNseg lançou um desafio ao mercado segurador em outubro de 2013: atingir quatro metas relacionadas aos Princípios para Sustentabilidade em Seguros (PSI) até 2015. Como membro apoiadora da PSI, a CNseg tem a missão de disseminar os princípios, além de trabalhar para fazer com que mais seguradoras e resseguradoras tornem-se signatárias. Em 2013, o esforço foi bem-sucedido, pois hoje o Brasil é o país com o maior número de signatários (8 – BB Mapfre, Bradesco, Itaú, Mongeral Aegon, Porto Seguro, Seguradora Líder, SulAmérica e Terra Brasis).
Hoje, em que ponto o mercado segurador brasileiro está?
Entre as questões mais observadas estão os eventos climáticos, que afetam diretamente os seguros agrícolas, de property e responsabilidade civil; o aumento da violência e dos acidentes de trânsito, que impactam os seguros massificados e, em saúde, a questão da qualidade do atendimento ao cliente e as pandemias. Ao acompanhar de perto esses assuntos, as seguradoras podem desenvolver ações de educação no trânsito, prevenção da dengue, melhora da governança corporativa de empresas clientes e combate à corrupção, por exemplo. Com essas ações, as seguradoras conseguem também redução de sinistralidade e melhor resultado, aumentando sua eficiência operacional e contribuindo para uma sociedade melhor.
Quais as metas para 2014?
Entendo que o mercado será guiado por projetos selecionados pela Comissão de Sustentabilidade da CNSeg. A Comissão definiu que trabalhará com poucos projetos, mas que possam apresentar resultados concretos em 2014. Alguns deles foram iniciados em 2013 e serão implantados até o fim de 2014. São eles:
– Desenvolvimento de ferramentas de geo-referenciamento que mapeiem a ocorrência de desastres naturais no território brasileiro, com o apoio da Central de Serviços e Proteção ao Seguro (Ceser), da CNseg e em parceria com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEM) e o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP);
– Lançamento de um curso de curta duração (24 horas) com foco em Sustentabilidade para o mercado segurador, a ser realizado em parceira com a Fundação Getulio Vargas e a Escola Nacional de Seguros;
– Pesquisa de Doutorado do Acadêmico Flávio Nogueira, da COPPE/UFRJ, a ser aplicado no mercado segurador com apoio da CNseg para verificar como as empresas tem tratado a questão de Mudanças Climáticas em suas operações;
– Definição dos temas materiais em sustentabilidade para a criação da matriz de materialidade do mercado segurador e plano de engajamento dos stakeholders estratégicos;
– Contratação de uma consultoria jurídica para elaboração de um estudo analítico da Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, e o Decreto nº 7.404, de 23 de dezembro de 2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos), a fim de identificar riscos e oportunidades potenciais para o mercado de seguros.
Qual a sua mensagem para as empresas do setor contribuírem para tal objetivo?
Primeiramente que aprofundem os estudos sobre o tema, e principalmente, conheçam os princípios da PSI, pois eles trazem exemplos práticos de como inserir questões ambientais, sociais e de governança na estratégia e operações das seguradoras, bem como em suas relações com a cadeia de valor (corretores, prestadores, órgãos reguladores, clientes e a sociedade em geral). Com mais conhecimento, as seguradoras podem começar a implementar pequenas ações, com foco na mudança de cultura de toda empresa, para que essas ações passem a ser rotina e não mais a exceção ou uma atitude desacoplada do negócio e do dia a dia da empresa e das vidas das pessoas.