MATÉRIA PUBLICADA NA REVISTA GERÊNCIA DE RISCO E SEGUROS, DO GRUPO MAPFRE, EDICAO 113
http://www.fundacionmapfre.com.br/Portal/Fundacao/Arquivos/Download/Upload/1061.pdf
Seguro sempre foi importante para a brasileira WEG, um dos maiores fabricantes mundiais de equipamentos eletro-eletrônicos. Com a previsão de chegar a 2020 com receita líquida de R$ 20 bilhões, proteger o patrimônio dos riscos do dia-a-dia se tornou ainda mais prioritário para a principal empresa do segmento negociada na BM&FBovespa.
Em 2011, o grupo teve uma receita operacional líquida de R$ 5,2 bilhões. Ou seja, um desafio e tanto para cumprir o planejamento conhecido como 20-20, que tem em sua base a consolidação do processo de internacionalização iniciado na década de 70, quando começou a exportar. Aos poucos foi abrindo escritórios comerciais e hoje já conta com doze fábricas no exterior, responsáveis por 12% da produção.
Em 2012, além de aumentar o leque de produtos, a fabricante parte com mais força com foco na abertura de novos mercados e incorporando novas tecnologias, como energia renovável, os “smart grids” (sistemas elétricos do futuro) e a mobilidade energética no transporte coletivo e na indústria naval. Em junho, por exemplo, comprou a paulista Stardur para reforçar sua atuação em tintas industriais.
O grupo nasceu na cidade de Jaraguá do Sul (SC) em 1961 e dez anos depois já estava listado em bolsa de valores. Hoje opera em várias cidades do país e também na Argentina, Áustria, México, Estados Unidos, Portugal, África do Sul, China e Índia e distribui seus produtos em mais de 100 países em cinco continentes. Um dos pilares do grupo para garantir o sucesso de tão ambicioso “business plan” é ter um amplo e global programa de seguros.
“Vamos começar a fazer road show pelo mundo afora para mostrar a indústria de seguros e resseguros mundial quem é o grupo WEG e quais são as nossas prioridades”, avisa Vanderlei Moreira, 45 anos, gerente global de riscos e seguros do grupo desde 2007, ano em que a WEG aderiu ao Novo Mercado da bolsa. Com 25 anos atuando em seguros, formado em ciências atuariais pela PUC-SP, o executivo tem as principais características que um headhunter, acionistas e empresas de seguros procuram: criatividade, flexibilidade, capacidade de reagir a mudanças e se adaptar rapidamente aos mais diferentes cenários.
Além de trabalhar em uma empresa preocupada com a sustentabilidade e especializada em gerenciar riscos de clientes, o gerente global de riscos e seguros ainda conta com o apoio de todos os demais executivos da empresa. “Proteger o patrimônio já conquistado de riscos que possam comprometer de alguma forma o planejamento traçado é prioridade para o corpo diretivo da WEG, bem como para o conselho de administração. Uma das formas de gerar valor ao acionista é ter uma política de relacionamentos de longo prazo com a indústria de seguros”, afirma Vanderlei Moreira.
Conte um pouco sobre a sua trajetória profissional.
Já atuei em todos os segmentos da indústria de seguros. Comecei a minha carreira em seguros em 1987, na Zurich. Foi quando ouvi pela primeira vez a palavra atuário, que se tornou uma rotina na minha vida ao cursar Ciências Atuariais na Pontifícia Universidade Católica (PUC). Troquei a Zurich para reestruturar a área de transportes do grupo BCN. Ao ser comprado pela Bradesco, tive o convite par integrar o time da corretora Jonhson & Higgins, adquirida pela Marsh, a maior do mundo. Voltei a atuar como segurador, no grupo Arbi Seguros (Santa Cruz Seguradora, Itatiaia Seguradora e Intercontinental Seguradora), adquirido pela Sul América. Depois de ter uma experiência como segurador e corretor, decidi aprender mais sobre resseguro e fui convidado a integrar o time da Munich Re Brasil em 1998, voltei para para o mercado segurador com a oferta da Cigna, que posterior foi adquirida pela Assurant, de onde sai com a proposta da WEG de criar uma área de riscos e seguros.
Como o grupo contratava seguro antes da sua chegada?
Tínhamos um corretor de seguros, a ADD Makler, comprada pela grupo MDS. A decisão foi deixar de operar com um corretor no segmento corporate para ter um departamento de gerenciamento de riscos. Conseguimos formar um banco de dados confiável, com estatísticas que nos ajudam a desenhar produtos sob medida para as necessidades do grupo. O banco de dados também nos ajuda a obter taxas melhores de seguros, uma vez que os riscos são conhecidos e mensurados.
E como foi criar a área?
Relativamente simples. Para o grupo, seguro é uma das formas de garantir o crescimento com consistência. A WEG tem uma administração compartilhada, com comissões e comitês responsáveis pela gestão de riscos em fornecimento e financeiro, implementado em 2008 e 2009. Identificando riscos e produzindo as políticas de gerenciamento de riscos para o Grupo WEG. Feito isso, definimos por meio dos comitês e comissões como será tratado o risco, se vamos absorver, compartilhar ou transferir, seja com seguradoras ou parceiros em projetos ou até com fornecedores.
Todas as unidades do mundo têm de seguir as recomendações?
Sim, em todo o mundo e temos a adesão de todos no gerenciamento de riscos.
A sua área é responsável por todo o programa de seguros do grupo, inclusive das operações no exterior?
Sim. Temos um guarda chuva mundial de proteções que são as apólices Master. As apólices de Responsabilidade Civil Geral (General Liability) Responsabilidade Civil Produtos, D&O, Transporte e Property compõem as apólices do nosso Worldwide Insurance Program (WIP) e as demais são todas definidas localmente, obedecendo as características de cada pais. Nos Estados Unidos, por exemplo, temos de comprar seguro de acidentes de trabalho (workers’ compensation), um item obrigatório. Na Índia, só podemos negociar com uma seguradora local, pois há restrições regulatórias para compra de seguro fora do pais. Na Europa, todas as unidades estão cobertas em uma apólice conhecida como Free Office Service (FOS).
E não tem um corretor para ajudá-lo?
Temos corretores apenas nos países que nos obrigam a ter esta intermediação, como Estados Unidos e Brasil, sendo que no Brasil utilizamos nossa cativa.
Estamos analisando em ter um corretor para as nossas apólices locais que não estão dentro do WIP e que nos ajude nas colocações, bem como as exigências legais e mercado de seguro destes países.
Você tem uma equipe pequena, de apenas quatro pessoas. Como cuidar de tudo?
Trabalhamos muito. Muito mesmo. Estamos estudando aumentar a vigência de nossas apólices mundiais de um para dois anos. Isso nos traz mais tranqüilidade e nos ajuda a reduzir os custos, bem como nos permite focar no gerenciamento de riscos para diminuir o risco WEG. Geralmente comecemos a negociar uma apólice seis meses antes do término de sua vigência e ainda assim temos constatado que para determinados riscos o prazo é muito curto para fechar a negociação. São muitas fábricas e passamos, no Brasil 10 e exterior 12, para efetuar inspeção de risco, e se todas as nossas recomendações para as não conformidades foram cumpridas. Se não, a unidade tem 15 dias para emitir relatório informando o prazo para ficar em conformidade com a política de risco, definida em conjunto pela alta cúpula do Grupo WEG.
Ter o apoio da alta direção foi um facilitador e tanto…
A WEG vende equipamentos para mitigar o risco operacional de seus clientes. Por isso o trabalho começa dentro de casa e todo o corpo diretivo é orientado a investir em gerenciamento de risco.
Qual a sua política de contratação de seguros?
Convidamos seguradoras de primeira linha para participarem de nossas concorrências, considerando a especialidade da cobertura que necessitamos.
Temos um programa mundial de seguros no qual vence a melhor proposta, o que nos torna um cliente diferenciado dentro da indústria de seguros. Protegemos o patrimônio de um dos maiores grupos do mundo no segmento de motores elétricos. Temos riscos inerentes ao negócio. Por isso não temos margem para correr riscos com a escolha de nossos parceiros. Nossas concorrências priorizam propostas técnicas e que visam a parceria no longo prazo.
Não há leilão para obter o melhor preço?
Não, pois a nossa avaliação vai muito além do ponto de vista financeiro. Apenas comunicamos quem venceu, dentro da política de transparência do grupo, que segue rigorosamente os padrões de governança estabelecido pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Nos dias de hoje há uma tendência das instituições financeiras em concederem descontos para clientes que concentram as operações. Isso é benéfico ou atrapalha a sua política de concorrência?
É benéfico, pois nos traz descontos. Caso a seguradora do grupo bancário não seja a melhor no nicho em que procuramos cobertura, vamos agradecer a proposta e procurar a melhor oferta técnica. Isso já aconteceu e temos o apoio do corpo diretivo para tomar essa decisão.
Quem escolhe os ressseguradores do programa mundial?
A seguradora líder. Fazemos questão de manter a relação como um consumidor de seguros, por isso deixamos a seguradora livre para escolher os resseguradores. Claro que estamos atentos as negociações e exigimos companhias de primeira linha.
Como uma das cinco maiores apólices de seguros do Brasil, o grupo WEG faz road show para os seguradores e resseguradores estrangeiros ou participa das reuniões mundiais como Baden Baden ou Montecarlo, encontros típicos para negociação de grandes contratos?
Não. Participamos anualmente apenas de reuniões agendadas durante a principal feira de gerenciamento de riscos do mundo, a RIMS, nos Estados Unidos ou Canadá. Está no nosso planejamento fazer apresentações do grupo para os principais players da indústria mundial a partir deste ano.
Qual seu principal risco?
Quando o assunto é risco, não temos riscos pequenos ou grandes. Analisamos a natureza do risco e não a conseqüência. Um pequeno motor colocado numa geladeira, por exemplo, pode se tornar catastrófico se ele for o causador de um incêndio em um apartamento, com as chamas se alastrando para as outras unidades e ocasionando a perda total do edifício. Por isso, para nós todos os riscos são, observados, analisados e tratados. Todos os equipamentos passam pelo controle de qualidade e 100% de nossos equipamentos são testados antes de chegar ao consumidor final. Ao contrario de muitas indústrias, que testam apenas peças escolhidas aleatoriamente. Na WEG, 100% dos equipamentos são testados por entendermos que risco é risco.
Que tipo de apólices contrata?
Temos várias apólices, entre elas property, risco operacional, responsabilidade civil de produtos, responsabilidade civil geral, seguro garantia, seguro transporte, um programa de afinidades com preços de seguros pessoais diferenciados para funcionários e seus dependentes com desconto na folha de pagamento, além das apólices incluídas no pacote de benefícios dos funcionários, sendo 25 mil funcionários só no Brasil e destes 15 mil estão em Jaraguá do Sul, temos aproximadamente 68.000 vidas entre colaboradores e seus dependentes com planos ou seguro saúde.
Tem algum risco excluído?
Sim. Risco nuclear. Poucas seguradoras operam com essa cobertura no mundo. Nossa meta é registrar o nosso histórico de equipamentos comercializados neste segmento e com base na experiência da carteira apresentar o risco para o setor e ai sim conseguir um contrato com cobertura e preço adequados.
E inundação, já que a matriz do grupo fica em uma região de risco?
Nossas fábricas foram construídas acima do nível de risco de enchentes e por isso sem registro de perdas com esse risco. Nosso desafio foi desenhar a logística para transferir a produção para outra unidade no caso desta ocorrência, pois apesar de não sofrermos perdas, nossos funcionários sofrem e muitos não conseguem chegar ao trabalho porque suas residências ou de seus familiares foram atingidas. E os que conseguem chegar às nossas fábricas, tentam ajudar os que perderam bens em campanhas de arrecadação ou de mutirão de reconstrução.
Recentemente o grupo comprou uma fábrica de tintas. Conseguiu incluir a unidade no programa mundial sem problemas?
Sim, com a mesma taxa de risco praticada para todo o grupo, pois as seguradoras sabem que temos um gerenciamento de risco eficiente e sério.
A WEG tem adquirido muitas empresas. Como faz com as apólices, mantém ou incorpora ao programa mundial?
Analisamos cada caso e as apólices desta unidade adquirida, se a mesma esta dentro de nossos padrões esperamos até o termino de vigência da apólice para incluir a unidade em nossa apólice mundial, o contrário a inclusão é automática. Mesmo nos Estados Unidos, país que têm cultura de seguros, precisamos investir para adequar o programa as exigências determinadas pelo comitê de gerenciamento de riscos. É uma decisão do conselho nivelar todos ao mesmo padrão de proteção.
Qual a principal mudança que precisou fazer para mitigar riscos desde que criou a área de seguros no grupo WEG?
Criar em conjunto com a empresa fabricas que atendam o plano de contingência e incluir no dia a dia de todos os colaboradores a prática de gerenciamento de risco..
Que outras ações importantes o departamento de riscos e seguros tem realizado para manter o patrimônio do grupo protegido?
Estamos sempre atentos aos riscos de abastecimento. O grupo WEG é bem verticalizado. Temos uma unidade responsável por administrar florestas para termos madeira para produzir as caixas de transporte dos equipamentos. Não podemos correr o risco de ficar com a produção parada por problemas com um fornecedor.
E tem seguro da floresta?
Sim, temos. Com a BB Mapfre.
E como é feito o seguro do transporte dos equipamentos? Há máquinas gigantes e caríssimas.
Além de grandes e alto valor agregado, nossos clientes precisam delas funcionando na data combinada. Temos um contrato de seguro transporte desde 2008, liderado pela Liberty, que tem funcionado muito bem, dentro do conceito ganha ganha e não um ganha e outro perde. Isso gera uma confiança grande no relacionamento, essencial em uma carteira tão nervosa como a de transporte.
No caso da exportação, o seguro é por conta da WEG ou do cliente?
O cliente tem a opção de escolher. Pelo volume que negociamos, sempre conseguimos um preço melhor, o que faz com que cerca de 80% dos nossos clientes optem pelo seguro transporte all risks da WEG. Alem do preço, o risco de danos é menor, pois já temos uma equipe de transportadores acostumados com nossas máquinas.
Um brasileiro negociando um programa mundial de seguros. Isso deve ter causado uma surpresa no mercando internacional. Conte um pouco sobre essa experiência.
No começo as pessoas ficavam surpresas. Alguns corretores insistiam em tentar negociar com os executivos locais, mas logo se acostumaram que toda a negociação tinha de ser conduzida com a minha equipe no Brasil. Mas o mais incrível são os comentários de nossos seguradores de que os gringos das seguradoras matrizes agora recebem, e não mais demandam, orientações e desenhos dos programas de seguro. Isto esta sendo muito engraçado, porque diversos seguradores já nos confessaram que agora eles estão dando o troco em sua matriz.
Qual o seu maior desafio profissional a frente da gerencia de risco e de seguros global da WEG?
Manter todas as unidades do grupo protegidas.