O Globo discute perspectivas do mercado segurador

Matéria publicada pelo portal da CNseg (www.cnseg.org.br)

Especialistas avaliam cenário benigno para crescimento de seguros, previdência e capitalização

“O mercado de seguros no Brasil”, nome do seminário promovido nesta segunda-feira (11) pelo jornal O Globo, serviu para conhecer os próximos passos planejados nos mercados supervisionados pela Susep. Entre as propostas, a ideia de estender para outros ramos a venda por meios remotos, como telefone celular, algo já permitido para o microsseguro; a criação de seguro popular de automóvel; o VGBL Saúde; e a eliminação das barreiras para que seguradoras assumam controle de empresas fora de sua atividade principal, sobretudo diante do novo cenário de juros baixos e impactos nas provisões técnicas.

Outra atualização de normativo relevante é a criação de uma agência reguladora, sucessora da Susep e do CNSP, para tornar a fiscalização e a supervisão mais dinâmicas e abrangentes. Na verdade, a Susep já rascunhou o projeto de uma agência reguladora de seguros gerais, previdência e capitalização, encaminhando-o ao Ministério da Fazenda.

Todas essas iniciativas miram o desenvolvimento do mercado e a maior proteção dos consumidores, assinalou o superintendente da Susep, Luciano Portal Santanna, um dos quatro participantes do encontro promovido pelo O Globo e patrocinado pela Capemisa- ao lado de Hélio Portocarrero (ex-superintendente da Susep e atual diretor executivo da Casa de Rui Barbosa); Luiz Tavares Pereira Filho, presidente do Sindicato das Seguradoras do Rio de Janeiro/Espírito Santo; Henrique Brandão, presidente do Sindicato dos Corretores do Rio de Janeiro (Sincor-RJ).

Lembrando o papel de tutelar o consumidor da autarquia, o titular da Susep destacou o esforço para acelerar o término das liquidações extrajudiciais- caíram de 25 para 14 em sua gestão as empresas sob intervenção; defendeu a venda das carteiras de seguradoras liquidadas para grupos mais sólidos; e assegurou que todas as seguradoras serão vistoriadas em loco no prazo de cada dois anos a partir de agora, com as visitas dos fiscais da autarquia previamente comunicadas para que as empresas organizem a documentação necessária.

ESTRANGEIROS. No encontro, Luciano Santanna avaliou ainda o interesse renovado das multinacionais (seguradoras e resseguradoras) pelo País, movimento “importante para aumentar a competição, ampliar a oferta de produtos e reduzir preços”. Para ele, o interesse tem relação direta com a taxa de expansão dos mercados supervisionados na última década. Apenas em 2012, a evolução de seguros gerais, previdência e capitalização alcançou 21%, uma taxa extraordinária na comparação com o PIB e algo que mantém relação direta com a reduzida taxa de desemprego.

Ele frisou ainda que a atuação ilegal de empresas, incluindo multinacionais de seguros, continuará a ser duramente combatida pela autarquia. Nesse sentido, lembrou a multa recorde- R$ 11 bilhões- aplicada pela Susep contra uma seguradora do Texas, nos Estados Unidos, por vender seguros no País sem estar credenciada na autarquia, e deixou claro que novas autuações a grupos internacionais que captam negócios irregularmente podem ocorrer em breve.

No plano doméstico, o radar da Susep mira as cooperativas de proteção veicular. Até agora, 300 já foram identificadas e há dezenas de ações lideradas pela Susep para obrigá-las a sair do mercado. Lembrou a parceria firmada com a Polícia Federal para deflagrar operações que resultem na prisão de dirigentes das empresas que atuam no mercado marginal e voltou a defender o projeto que dá poderes ao Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) de decretar a liquidação extrajudicial das cooperativas ou associações de proteção veicular.

Sobre a extinção do custo da apólice, Luciano Portal voltou a defender a medida adotada em sua gestão, lembrando que seu impacto financeiro é relativo, porque, como o mercado de seguros não é tabelado, as empresas podem inserir o custo desta rubrica nas despesas administrativas. “A extinção dá clareza a um custo que deveria sempre estar nas despesas administrativas e evita problemas futuros com o Ministério Público, que já vinha questionando a segmentação do custo da apólice”, lembrou ele.

CENÁRIO BENIGNO. Outro expositor do encontro foi Helio Portocarrero, ex-superintendente da Susep e atual diretor da Casa Rui Barbosa. Ele chamou a atenção para o desempenho positivo de algumas modalidades de seguros, em virtude do avanço da nova classe média brasileira. Nesses casos, inclui o garantia estendida e o seguro saúde. Também avaliou positivamente a expansão dos títulos de capitalização, o segundo produto mais conhecido após a caderneta de poupança.

Após reconhecer algumas imperfeições no seguro garantia (crítica à distribuição e elevados lucros), Hélio Portocarrero fez questão de exaltar a importância do produto, chamando-o de “o seguro da nova classe média”. Para ele, a concentração do seguro, processo que já teve seu pico nos primeiros anos de sua regulamentação, em 2006, está em franco declínio, aperfeiçoando-se a concorrência e reduzindo as margens dos players, com benefícios crescentes para os consumidores. A despeito das polêmicas, ele destaca que “o patrimônio da nova classe média tem de estar protegido, e o seguro garantia cumpre exatamente esse papel”.

Mesmo assim, a Susep anunciou que criará um grupo de trabalho para analisar o seguro de garantia estendida e coibir práticas prejudiciais aos consumidores. “É um segmento em que percebemos que ainda há a presença de venda casada”. “Normalmente é ofertado pelas lojas de grande porte que acabam vendendo esse produto sem prestar informação adequada ao consumidor”, afirmou Santanna, durante o encontro.

NICHO. Para Portocarrero, outro mercado promissor é o de capitalização. Trata-se de uma “jabuticaba brasileira”, que só faz crescer nos últimos 15 anos, apresentando-se como um dos produtos prediletos dos consumidores, que sabem, sim, o que compram quando decidem por um título, ou seja, querem fazer uma pequena poupança e participar dos sorteios promovidos pelas empresas. “O título de capitalização estimula a acumulação por uma parte da população que não ter o menor motivo para poupar”, lembra ele, já que seus riscos são relativamente cobertos pela gama de serviços sociais, como INSS e SUS, ao contrário de outros emergentes, como a China e Índia, que sequer têm um sistema de previdência pública.”

Ele lembrou ainda que problemas mais sérios da carteira de automóvel e de previdência privada já foram solucionados no passado. Ele se refere ao uso da tabela Fipe para a fixação do valor de mercado de automóvel, o que reduziu queixas dos consumidores e disputas judiciais sobre indenizações pagas para roubo e furto; e à migração de benefícios definidos para contribuições definidas nos planos de previdência, o que garante hoje a normalidade do mercado em um cenário de juros básicos baixos, como os atuais. O único senão, no caso da previdência, é que o projeto de blindagem das reservas técnicas ainda não saiu do papel, o que coloca em risco os recursos acumulados em caso de liquidação.

Outro participante do encontro, o presidente do Sindicato das Seguradoras do Rio, Luiz Tavares, apresentou números da indústria mundial de seguros- de mais de trilhão nos EUA e Europa, em dólar e euro, respectivamente- para mostrar o crescimento potencial reservado ao mercado brasileiro; destacou a importância do seguro DPVAT; e apresentou um perfil da indústria de seguros fluminense, a segunda maior praça de negócios após São Paulo, além de enumerar algumas ações realizadas pelo Sindicato em parceria com o Governo do Estado.

Nesse sentido, citou o Pátio Legal, criado em 2005 com objetivo de abrigar veículos roubados, furtados e recuperados pela Polícia, oferecendo aos cidadãos melhores serviços para reaver seu carro, independente de ser ou não segurado; destacou a legislação estadual de fiscalização dos ferros-velhos pela Polícia Civil, para evitar a receptação e desmanches de carros; e, por fim, o Brat Eletrônico, que permite a motoristas fluminenses que se envolverem em acidente de trânsito sem vítima o preenchimento do registro do acidente pela internet desde janeiro. A ferramenta é mais uma comodidade ao cidadão, que antes precisava se dirigir ao Batalhão da Polícia Militar mais próximo para fazer o Brat.

Outro palestrante foi o presidente do Sindicato dos Corretores do Estado do Rio de Janeiro (Sincor-RJ), Henrique Brandão. Ele cobrou solução para os chamados riscos declináveis, exortando o mercado a buscar soluções para que diversos setores econômicos, como fabricantes de colchões e de móveis, voltem a ter seguro de Incêndio, restrição ocorrida após a abertura do mercado de resseguro, dada a elevada sinistralidade. E queixou-se de um suposto aumento de negativas de pagamento de indenizações, tendo como base o questionário de perfil do motorista.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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