O jogo Brasil x Argentina foi cancelado. Tem seguro para indenizar o prejuízo?

Imprevistos acontecem e temos hoje um bom exemplo de como a indústria de seguros pode ajudar numa situação constrangedora como o cancelamento do jogo Brasil e Argentina, no estádio Centenário, em Resistência. Quem poderia imaginar o cancelamento do jogo? Resta saber agora quem vai amargar o prejuízo. Será que o produtor do evento comprou seguro? Mesmo sem ainda saber essa resposta, o alerta que fica é que as coberturas estão disponíveis na prateleira das seguradoras, que também podem desenhar uma apólice sob medida para atender à necessidade do organizador. Pelo menos no Brasil é assim que funciona.

A dica que fica é: consulte os corretores sobre o tema. Eles têm muito a dizer sobre o assunto. “Essa ocorrência pode servir como um alerta, principalmente para o Brasil, que sediará grandes eventos nos próximos anos. Se em uma partida isolada os prejuízos podem atingir milhões de reais, imagine o que poderia ocorrer em um grande torneio?”, questiona Bruno Amorim, diretor comercial corporate e responsável pelo segmento de Lazer, Esportes & Entretenimento da Aon Risk Solutions, filial brasileira de uma das maiores consultoras e corretoras de seguros do mundo.

Se realmente não tiver seguro para indenizar aqueles que pedirem ressarcimento das perdas, começará aquela discussão jurídica, que pode demorar anos. A culpa pode recair até mesmo sobre o motorista que transportava os jogadores. Segundo noticiou a Globo, no início da transmissão, o ônibus da seleção do Brasil teria batido num transformador, mas não haveria problema porque o estádio tinha dois geradores… O motorista pode recorrer, dizendo que o estádio é que tinha de ter dois geradores. Já o estádio pode recorrer, alegando que a empresa que instalou os geradores…. E por ai vai. Melhor ter o seguro para que a corretora e seguradora disponibilizem uma equipe para contornar a situação e preservar a imagem do organizador, pagar os danos, acalmar os torcedores e investidores e pronto, ficando do promotor livre para dedicar tempo para tantos novos eventos previstos para serem realizados no Brasil.

Veja abaixo os principais trechos da entrevista.

SONHO SEGURO: A situação ocorrida na partida entre Brasil e Argentina trouxe à tona os riscos aos quais os organizadores estão expostos na realização de grandes eventos.
AON: Sim. O cancelamento traz prejuízos muito maiores que apenas o descontentamento e frustração dos torcedores, e o consultor de riscos e seguros deve identificar, classificar e buscar formas de mitigar essas exposições, seja através de procedimentos (gestão de riscos) ou através de programas de seguros diferenciados.

SONHO SEGURO: Tais riscos são do organizador?
AON: De forma geral, a realização desse tipo de evento fica a cargo da Federação, no caso a Federação Argentina, que geralmente contrata uma empresa de eventos e tem três principais fontes de receita: bilheteria, patrocínio e direitos de transmissão.

SONHO SEGURO: Em transmissão, como funciona?
AON: Os direitos de transmissão são geralmente vendidos à uma TV local (geradora do sinal), que por sua vez vende esse sinal a outras TV`s (de outros Estados e/ou Países) interessadas na transmissão do evento, que “fatiam” todo o tempo da transmissão e o vendem na forma de espaço publicitário (inserções durante a partida, vinhetas, comerciais durante o intervalo, etc) a seus patrocinadores.

SONHO SEGURO: No caso do cancelamento da partida de ontem, as prováveis reclamações poderão estar relacionadas a que tipo de perdas?
AON: Público e torcedores, com devolução do valor dos ingressos, uma vez que parece que eles não irão promover uma nova partida. Equipes, com custos com despesas relacionadas a transporte, hospedagem, entre outros. Patrocinadores, com a devolução dos valores adiantados, uma vez que sua marca não foi exposta da forma devida. E TV, envolvendo toda a “cadeia” acima mencionada que pode reclamar a devolução dos valores investidos, que em última instância, irão recair sobre a organização do evento, que no caso seriam Federação + Promotor.

SONHO SEGURO: Há seguro para todos esses riscos?
AON: Sim. Caso a partida estivesse assegurada por uma apólice de cancelamento, todos os prejuízos sofridos pela Federação/Organização em função das situações mencionadas poderiam estar cobertos, inclusive os custos da própria Federação/Organização referentes ao evento, com contratação de terceiros, instalação e montagem entre outras.

SONHO SEGURO: Quais as coberturas para seguro de cancelamento?
AON: O seguro de Cancelamento / Não Comparecimento tem como objetivo proteger os organizadores/promotores de eventos dos prejuízos que os mesmos possam sofrer em decorrência de cancelamento e/ou adiamento de um evento. As razões para o cancelamento/adiamento podem ser as mais variadas, como indisponibilidade do local do evento, impossibilidade de acesso ao local, condições climáticas adversas e até mesmo o não comparecimento de artistas, participantes ou até mesmo equipes indispensáveis à realização. Para isso, o programa de seguros deve ser estruturado com base em um profundo estudo de todas as características do evento, como locais, atividades e até mesmo detalhes da engenharia financeira do mesmo.

SONHO SEGURO: E os custos de reagendamento de um novo evento?
AON: De forma geral, o seguro pode cobrir todos os prejuízos sofridos pelo organizador em função do cancelamento, podendo até mesmo pagar os custos do adiamento /reagendamento do evento.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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