Setor de seguros da China aprende com erros e afirma ter as pessoas como principal ativo para sustentar o crescimento

No rastro da expansão da economia chinesa, a indústria de seguros da China tem passado por profundas transformações nos últimos 20 anos, a começar pelo número de players, que aumentou significativamente nesse período. “Tínhamos apenas cinco seguradoras em 1991. Hoje são 134 seguradoras, sendo 55 estrangeiras e cinco resseguradoras”, conta Yanil Zhou, vice- presidente do órgão regulador de seguros da China, durante a primeira palestra do último dia do 48º Seminário anual da International Insurance Society (IIS), realizado no Rio de Janeiro, com apoio da CNseg.

As companhias atuam em diversos nichos, o que tem tornado a concorrência mais acirrada a cada dia. No primeiro trimestre de 2012, as seguradoras tinham 66% do mercado, enquanto a principal seguradora do país, a estatal PICC, detinha 34%. Isso fez com que os prêmios crescessem mais de 40 vezes, passando da casa de 36,8 bilhões de yuan para 1,4 trilhão. Os ativos totais do mercado saíram de 3,374 bilhão para mais de 50,4 bilhões.

Tudo isso aconteceu pela abertura do mercado ao capital estrangeiro nos anos 80 e pela modernização das regras do mercado. Em 2003, a PICC começou a ser negociada na bolsa e se internacionalizou. Em 1992, a AIA, do grupo AIG, foi a primeira a entrar no mercado chinês. “A abertura trouxe experiência em seguros agrícolas, saúde e venda por meio de agentes”, destacou Zhou.

No entanto, muitas seguradoras ainda relutam em entrar no país pelas dificuldades políticas, suas grandes dimensões territoriais, diferenças culturais e a presença de vários dialetos, itens que dificultam a comunicação com consumidores e agentes do governo.
Mas Zhou afirma que as perspectivas futuras são otimistas e estimula a plateia a pensar em investir no país. “Nossa indústria está em forte crescimento, acompanhando o desenvolvimento da economia chinesa. O ritmo chinês de crescimento traz grandes oportunidades para as seguradoras”, afirma.

De fato, o PIB cresce a passos largos. Cresceu 9,2% em 2011 quando o mundo afundou, chegando a US$ 7,46 trilhões. A classe média tem crescido muito e de forma estável. E eles buscam proteção do seguro em vários aspectos, desde saúde até para o carro. Em longevidade, também há grande potencial para as seguradoras. Espera-se que, até 2050, as pessoas acima de 60 anos representem 430 milhões na China. A urbanização segue em ritmo forte, chegando em 50% da população em 2011, e a previsão é chegar a 80% em 2030. “Ao chegar à cidade, o indivíduo quer seguro saúde e previdência”, citou.

Segundo ele, o mercado de seguros chinês está a cada dia mais maduro e, mesmo assim, a indústria continua crescente e com grande espaço para evoluir em termos de penetração do PIB e consumo per capita. Porém, as seguradoras representam ainda 3% dos ativos financeiros totais do país. Em PIB, o setor tem participação de apenas 6,42%, sendo o PIB da China o segundo maior do mundo, próximo de passar o dos Estados Unidos, primeiro do ranking, até 2020.

Um dos pontos importantes para o desenvolvimento da indústria de seguros é proteção dos consumidores, alvo central da regulação do mercado. Segundo Zhou, o arcabouço regulatório tem três pilares: proteção do consumidor; manutenção da ordem do mercado estimulando a concorrência; e incentivo à venda de produto certo, para a pessoa correta e pelo preço justo. “Também estamos atentos a dar incentivos para fomentar a inovação”, revelou.

Em 1995, o foco do regulador chinês foi a elaboração de regras de solvência. Em 2004, três seguradoras foram consideradas insolventes, o que levou a um aperfeiçoamento do setor. Em todo esse período, a solvência vem melhorando consideravelmente. China Life, Ping An e China Pacific, que venderam seguros baratos para se beneficiar do boom do mercado financeiro em 2007, enfrentaram sérios problemas e hoje voltam a ser players importantes do setor. “Após três anos de ajustes, temos apenas 5 seguradoras insolventes”, afirmou. Em 2011, o regulador esteve envolvido com a formulação de regras de conduta dos distribuidores, controles internos, governança e regras de entrada de companhias bem como de liquidação.

A perspectiva da regulamentação na China para os próximos anos mira a proteção ao consumidor. “Temos um canal para receber as reclamações e uma instituição será estabelecida para cada uma de nossas jurisdições”, afirmou. Segundo ele, a primeira geração de regulamentação foi lançada e, nos próximos três anos, será feita uma atualização, finalizando em 2016 com a adoção dos requisitos de Solvência 2.

Para o chinês, o segredo do sucesso de uma seguradora não está no ganho da aplicação dos prêmios no mercado financeiro. “Nosso setor é baseado em pessoas. Com as pessoas certas você consegue ter muito lucro. O que queremos ver é o capital certo com as pessoas certas, pois isso vai fazer o negócio prosperar. Uma montanha de dinheiro que pode ser usada num único dia não vai gerar um bom negócio. Queremos qualificação dos executivos seniores. Acredito que ter pessoas bem treinadas é mais importante do que outros quesitos. Com profissionais certos, conseguimos desenvolver aptidões e fazer uma boa gestão”, resume Zhou.

“Nós queremos manter o canal de comunicação aberto com todo o mundo. O microsseguro é uma prioridade do governo e estamos fazendo uma reestruturação desse segmento”, informou. “Estamos agora focados em serviços que podemos prestar à população de menor renda”, acrescentou o executivo, citando uma frase do Premier Wen Jiabao: “O seguro dá para a pessoa um futuro previsível e a ajuda a gerenciar riscos”.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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