Sustentabilidade, mais um desafio para o presidente da Fenasaúde, Marcio Coriolano

Incluir a sustentabilidade no dia a dia de seguros é um desafio para todos. Um bom desafio. Acho que de todas as federações, a que mais terá de ser criativa é a Fenasaúde. Afinal, eis aqui um assunto que interessa a todos e que tem custos elevados e descasados. Diante disso, achei muito interessante a entrevista publicada no portal da CNseg e a compartilho aqui com quem quer acompanhar esse assunto. Boa leitura. Segue o texto extraído na íntegra:

O presidente da FenaSaúde, Marcio Serôa de Araujo Coriolano, avalia a incorporação do conceito da sustentabilidade em saúde suplementar, os desafios para sua implementação, como a transição demográfica, a longevidade e a prevalência de doenças crônicas sobre as agudas, por exemplo. E crescentes custos em quaisquer dos cenários. Para ele, há uma discussão da ética da medicina, e dos limites da assistência, que precisa ser enfrentada. Confira a íntegra da entrevista de Marcio Coriolano.

O que é sustentabilidade em Saúde Suplementar?

Conceitualmente, o desenvolvimento sustentável é aquele capaz de suprir as necessidades da geração atual, ao mesmo tempo garantindo a capacidade de atender às necessidades das futuras gerações. Na saúde suplementar, a principal dimensão da sustentabilidade é a econômico-financeira. Isso porque, sem equilíbrio entre custos assistenciais, orçamento de famílias e empresas, e solvência das operadoras privadas de saúde, será incerto o acesso futuro da população a uma saúde particular de boa qualidade.

No Brasil, são imensos os desafios para o desenvolvimento sustentável da saúde, tanto a pública quanto a privada. Há quatro transições concomitantes acontecendo na saúde. A primeira é a transição demográfica. As taxas de natalidade são baixas, assim como as de mortalidade, ampliando a necessidade de recursos a serem repartidos. A segunda é a transição etária, pelo aumento da longevidade, igualmente pressionando a infraestrutura médica de atendimento. A terceira é a transição epidemiológica, com a prevalência de doenças crônicas e do câncer em oposição à solução para doenças agudas. Obviamente, as doenças crônicas, como as pulmonares e várias tipos de câncer requerem mais recursos para tratamentos, durante muito mais tempo. E, finalmente, a transição tecnológica, com a sistemática introdução de medicamentos de última geração, e mais caros, assim como de procedimentos médicos e equipamentos de elevado valor agregado. Somando-se os efeitos de todas essas transições, tem-se o preciso sentido da escassez de recursos que se pode esperar no futuro caso seja mantido o atual estado de coisas.

O que setor brasileiro esta fazendo nessa direção?

Na saúde suplementar já se discute e pratica a atualização do Rol de Procedimentos editado pela ANS acompanhado de “protocolos de utilização”. Ou seja, apenas passam a ser cobertos os procedimentos médicos que efetivamente se aplicam àquele paciente do sistema privado. Também está ocorrendo a adoção mais ampla de programas de promoção da saúde e prevenção de doenças, que supostamente reduzirá a demanda futura de tratamentos caso haja uma efetiva adesão a esses programas. Há também uma ampla e polêmica discussão sobre a mudança do modelo de remuneração dos prestadores de serviços médicos e hospitalares, pela transposição do antiquado e improdutivo modelo de remuneração pela quantidade de atendimentos, por um modelo que privilegie a efetividade do cuidado.

A FenaSaúde está se engajando nesse movimento? Como?

As associadas da FenaSaúde, pelo seu tamanho e credibilidade, lideram todas essas iniciativas, inclusive propondo ações concretas para o órgão regulador, a ANS, e os demais participantes do sistema de saúde suplementar. São elas quem também lideram os programas de promoção e prevenção. Mas a FenaSaúde também entende que essas ações são insuficientes para garantir a sustentabilidade futura. Para que os custos assistenciais deixem de subir muito mais que a inflação média, é preciso que sejam adotadas medidas mais corajosas, como, por exemplo, a efetiva disciplina da introdução de novas tecnologias no país, como acontece hoje no Canadá, na Inglaterra e em outros países. No Brasil, essas tecnologias são introduzidas de maneira acrítica, assim como também há muitas indicações duvidosas de sua utilização. Há, portanto, uma discussão da ética da medicina, e dos limites da assistência, que precisa ser enfrentada. Por outro lado, os agentes do sistema de saúde, todos, precisam engajar a população em campanhas para o uso responsável dos recursos da medicina, de forma a reduzir a sua hipossuficiência com relação aos profissionais da saúde.

Existe alguma proposta do setor para Rio+20?

A FenaSaúde acha que o Governo e a iniciativa privada, através das entidades nacionais de propaganda e marketing, criaram uma excelente campanha para despertar hábitos saudáveis e consciência sanitária na população brasileira. Trata-se da campanha “O futuro promete e eu quero chegar bem lá. ” O Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira apoiam a iniciativa. A nossa Federação engajou-se desde o início nessa campanha que pode ser barata e de longo alcance, com resultados satisfatórios. É um excelente mote para o evento. Além, evidentemente, de debates mais conceituais sobre o impacto da longevidade nos sistemas de saúde e previdenciário. E das soluções que devem ser adotadas, as corajosas e efetivas.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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