Allianz Brasil se prepara para o microsseguro

indiano-kamesh-goyal-country-manager-da-bajaj-allianz-indiaMais um passo foi dado para preparar a subsidiária brasileira do grupo alemão Allianz para atuar em microsseguro, segmento em que o grupo é líder mundialmente. Segundo Max Thiermann, presidente da Allianz Brasil, a expectativa é estar com tudo pronto em meados de 2011.

Segundo ele, a parte operacional para emissão de apólices está pronta. Mas é preciso preparar toda a parte de regulação de sinistros, que é a principal parte de todo o sistema de operação de uma seguradora de microsseguro. Outro ponto chave deste segmento é a distribuição de produtos. “Estamos sendo muito procurados por instituições financeiras voltadas para a classe de menor renda”, contou Thiermann.

Apenas 5% da população global é coberta por algum tipo de seguro. Nos 100 países menos desenvolvidos, a cobertura não chega a 3%. Mais de 4 bilhões de pessoas no mundo tem renda menor do que US$ 8 por dia e 2,6 bilhões vivem com menos de US$ 2 por dia. Este é um dos grandes públicos para o qual o grupo Allianz tem dedicado atenção na descoberta de suas necessidades e na criação de produtos que visem garantir a rota de crescimento das famílias mesmo diante de acidentes.

O potencial mundial de microsseguros é estimado em US$ 1,9 bilhão, relata o indiano Kamesh Goyal (foto), executivo da Bajaj Allianz Insurance Company, no Fórum Internacional de Seguros para Jornalistas, promovido pela Allianz Brasil, em São Paulo. Atualmente, estima-se em US$ 60 milhões o volume de prêmios de microsseguros em todo o mundo. Mas esta estatística se mostra equivocada quando se observa o faturamento da Allianz. Só a subsidiária da Índia tem US$ 50 milhões em microsseguros e pretende superar os US$ 100 milhões em prêmios em 2011.

O maior mercado de microsseguros hoje no mundo é a Índia, um país que tem uma enorme desigualdade social e com sistema de seguridade social praticamente inexistente. Cerca de 90% da população da Índia, 950 milhões de pessoas, não tem qualquer tipo de cobertura de seguro. Isso representa um mercado inexplorado de US$ 2 bilhões, segundo estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

A Allianz é a maior seguradora neste nicho de negócio, onde atua desde 2004. São mais de 3,8 milhões de clientes na Índia, Indonésia, África e América Latina. A Allianz conta com mais de 2 milhões de segurados em vida e 34 mil em saúde, com atendimento em 16 dos 28 estados da Índia, com produtos vendidos a um preço de US$ 2 a US$ 4.

Mais de 50% das 83,9 milhões de famílias de agricultores da Índia estão excluídos dos serviços formais como dos informais. Apenas 27% das famílias têm acesso a fontes de crédito formais e 66% das famílias são completamente excluídas de qualquer tipo de serviços financeiros e sequer possuem uma conta bancária. “São justamente as pessoas com menos recursos que estão mais expostas ao risco”, diz.

Segundo ele, isto significa uma grande oportunidade para a Allianz. Apenas 5% da população indiana tem alguma cobertura de seguro saúde e a previdência social é praticamente inexistente. “Este é um tipo de segmento totalmente diferente. Não é tanto no sentido operacional e sim de comportamento”, conta.

A Allianz vem desenvolvendo este mercado desde 2004, mas começou a operar efetivamente em 2007. Conseguiu grandes avanços. No ciclone Nisha, em 2008, por exemplo, mais de 95% da população não tinha seguro. E os que tinham consumiram indenizações de US$ 800 mil, equivalente a mais de dez vezes o prêmio cobrado. A Allianz pagou mais de 14,5 mil indenizações de saúde e residencial.

O executivo destaca que há grandes desafios, principalmente para o desenvolvimento de produtos de vida. Em vida, a Allianz pagou na Índia mais de 4,3 mil indenizações, totalizando 9 milhões de rúpias em 2008 e mais de 13 mil em 2009, com valores de 10 milhões de rúpias.

“É preciso criar produtos simples e de fácil entendimento, uma vez que a maioria da população é analfabeta e sem documentos para confirmar idade, saúde ou escolaridade”, conta. Boa parte da população também tem renda inconstante, o que pode gerar uma inadimplência acima da média.

Qualquer problema de saúde pode inviabilizar o pagamento da apólice. Por isso a proteção de saúde é uma das primeiras a ser desenvolvida, para manter o beneficio em caso de doenças. As pessoas vivem em condições críticas, sem condições sanitárias e muito expostas a vulnerabilidades. “O pagamento de indenização tem de ser rápido, pois muitas vezes ele é que vai salvar a vida do cliente”, diz, acrescentando que há muito para as seguradoras fazerem no local para melhor a saúde destes consumidores.

Outro desafio é manter a estrutura de custo operacional totalmente enxuta, uma vez que o preço viável a ser cobrado mensalmente para o desenvolvimento deste nicho é de US$ 1. Uma das formas de baratear o custo é a distribuição dos produtos, diz o executivo. “É preciso ter parceiros com acesso a essa clientela e que compreendam o que ela quer e do que precisa”, enfatiza Goyal.

Segundo ele, este agente tem de estar envolvido em outra atividade. A distribuição de seguro não deve ser o único negócio. “Eles têm de estar envolvido na regulação e liquidação do sinistro”. Por isso, a Allianz tem parcerias com vários parceiros, sendo as cooperativas as principais.

Em dois anos, a Allianz não atingiu o break even da operação, ou seja, o ponto de equilíbrio em rentabilidade. Segundo ele, este ano o microsseguro deverá crescer mais de 15% e a meta é conseguir US$ 100 milhões em prêmios no médio prazo.

O especialista em microsseguro enfatiza que este é um nicho de negócios que traz uma grande oportunidade para as seguradoras. “Mas é preciso ter uma nova mentalidade, o que é micro varia de lugar para lugar e, principalmente, esteja sempre preparado para as surpresas”, finaliza.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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