SulAmérica busca ressarcimento da Açominas

1200663411oodtak1Mais um capítulo no imbróglio da ação judicial que envolve SulAmérica, IRB Brasil e Açominas, que se desenrola desde março de 2002, volta a revirar os autos dos tribunais e estampar as páginas dos jornais. Conduzido pelo advogado Ernesto Tzirulnik, a ação da seguradora pede de volta os US$ 31,5 milhões pagos à siderúrgica pelo seguro da usina Arthur Bernardes, sediada na cidade de Ouro Branco (MG), devido a um acidente que destruiu parte de seus equipamentos.

Trincas no domo de um dos três regeneradores de ar que alimentam o alto forno acabaram-se abrindo e a pressão do ar arremessou o domo que pesa 147 toneladas a uma distância de 157 metros, segundo relatos da defesa da seguradora. Embora em 2001 o trincamento por corrosão sob tensão fosse um risco excluído do seguro da Açominas, e das siderúrgicas em geral, por ser uma deterioração gradativa, no seguro emitido pela SulAmérica havia, no entanto, cobertura para explosões acidentais oriundas de quaisquer causas.

A SulAmérica e o IRB Brasil Re examinaram os fatos e concluíram que o sinistro aconteceu em virtude de um fenômeno de degeneração gradativa chamado “stress corrosion cracking” (scc), aqui conhecido como trincamento por corrosão sob tensão. Na década de 90 o assunto passou a ser melhor conhecido no setor siderúrgico e inúmeras ações foram adotadas para prevenir e combater a “scc” que afeta os regeneradores.

Como o valor dos prejuízos cobertos pelo seguro, na visão da seguradora e do IRB, era da ordem de US$ 31,5 milhões, foram feitos adiantamentos para a Açominas de US$ 20 milhões e restou um saldo a pagar de US$ 11,5 milhões. A Açominas havia pleiteado US$ 80 milhões, pois incluía outros danos como consequência da mesma catástrofe de 23 de março de 2002, inclusive o reforço dos outros dois regeneradores que não explodiram, mas que também estavam ameaçados pela corrosão.

Como não houve acordo, a Sul América propôs perante a 10a. Vara de Belo Horizonte uma ação de consignação em pagamento, por meio da qual depositou os US$ 11,5 restantes e pede a extinção da dívida do seguro. A Gerdau contestou pedindo US$ 165 milhões a mais.

Durante o processo, em fevereiro de 2007, diz o relato, apareceu uma série de documentos da Danieli Corus, siderúrgica e prestadora de serviços para a Açominas, adverte que os regeneradores de Ouro Branco estavam com o trincamento em estado avançado, correndo o sério risco de uma ruptura catastrófica, salientando que na Alemanha havia ocorrido um acidente como esse.

Era necessário, informa a nota, segundo a Danieli Corus, reduzir urgente o ritmo de produção do alto forno e adotar as medidas para conter os efeitos da já bastante avançada corrosão gradativa. Esses documentos, embora recebidos pela Açominas, nunca haviam sido revelados para a seguradora e para os peritos que examinaram o ocorrido. O alerta dado pela Danieli Corus à Açominas é do dia 27 de setembro de 2001, seis meses antes de acontecer a catástrofe. Nesse período a Açominas teria não apenas continuado a produção do ferro gusa, como aumentado o ritmo dessa produção, exigindo mais dos equipamentos.

Em outubro de 2009, os peritos judiciais nomeados pelo juiz da 10a. Vara de Belo Horizonte apresentaram seu laudo pericial onde confirmam que a causa do acidente foi o trincamento por corrosão, um fenômeno gradativo bastante conhecido no meio siderúrgico há décadas, e que já havia sido alertado para a Açominas, entre outros, pela Danieli Corus.

Diante desse laudo e dos documentos como o alerta da Danieli Corus, a SulAmérica apresentou em 18 de fevereiro deste ano na 29a.Vara Cível de Belo Horizonte um protesto interruptivo de prescrição de ação de repetição de indébito. Agora é só esperar o próximo capítulo.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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