Algumas matérias são realmente interessantes. Ontem e hoje a imprensa trouxe o resseguro como manchete. O que mostra a necessidade da parar um minutinho e pensar. Como o IRB Brasil Re pode continuar grande se todas as empresas que compravam resseguro — mais de 60 já estão no Brasil — do órgão estatal agora vão usar as suas próprias resseguradoras?
A principal função do resseguro é pulverizar o risco no exterior. Esta função no IRB era exercida pelas estrangeiras. Por deixar outros fazerem por ele esta tarefa não acumulou experiência internacional e perdeu os poucos funcionários que tinha e que sabiam como fazer. Não há reestruturação que o faça ser grande. Mas há seguros politicos que precisam de resseguro oficial.
Bem, vamos lá. Em janeiro a obrigatoriedade de preferência dos contratos aos locais cai de 60% para 40%. Aguardemos para ver como fica a situação e a oferta do Banco do Brasil para a compra de parte do IRB Brasil Re, controlado pelo governo e por duas seguradoras privadas, Bradesco e Itaú Unibanco.
Com razão, um único ressegurador manter uma fatia 70-80%de um mercado de R$ 3,5 bilhões não combina com uma das essências do resseguro (pulverizar riscos globalmente).
O IRB mantém-se líder por várias razões, mas estas razões cada vez mais perdem força. Citarei 4:
1. O IRB é bom pagador de sinistros e faz “vista grossa” para erros e ineficiências das cedentes. Que ressegurador paga sinistro se a cedente “esqueceu” de repassar prêmios? (As seguradoras estão se preparando e cada vez mais eficientes e erros são menos frequentes)
2. O IRB (seus subscritores) conhecem o mercado e individualmente os riscos melhor que qualquer um. (Em mais algum tempo as outras resseguradoras vão adquirir esse conhecimento e isso não será diferencial)
3. Os concorrentes do IRB estão ainda atuando timidamente no Brasil. (Também em pouco tempo a parcela a resseguradores “estrangeiros” aumentará)
4. Algumas seguradoras só não deixam de trabalhar exclusivamente com o IRB porque lhes falta tecnologia para administrar contratos com vários resseguradores. (Em breve todas as cedentes estarão preparadas)
Resumindo, não tem jeito. O IRB vai perder mais mercado e não vai ficar com 60-70%. Vai estabilizar bem mais abaixo. A única forma de manter o seu tamanho é buscando negócios fora do Brasil. O IRB não tem essa cultura mas seus acionistas e executivos com certeza já se deram conta disso.
Acho que o IRB vai fazer tudo que precisa fazer, mas…como tem sido praxe: com grande atraso.