*matéria produzida com exclusividade para o especial “Pequenas e Médias Empresas” do jornal Valor Econômico,que circulou no dia 30/09/2009
Quem olha de fora, dificilmente imagina o corre-corre dos bancos oficiais e de entidades de classe nos bastidores da economia para mitigar os efeitos da crise internacional. Graças à dedicação de uma força tarefa, o Brasil foi um dos primeiros países a sair do tsunami financeiro.
Um dos sustentáculos da engrenagem do crescimento tem sido o crédito. Por isso, ele se tornou a bandeira da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio), entidade que representa 151 sindicatos empresariais do setor de comércio e serviços espalhados pelo interior do Estado de São Paulo, dono do maior Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.
Há anos a Fecomercio busca articular a oferta e a demanda de crédito entre os pequenos empresários. A entidade insiste que as instituições financeiras precisam ter mais recursos direcionados para esse universo de empresas: cerca de 600 mil no total, que respondem por 10% do PIB e geram em torno de 5 milhões de empregos. “Temos lutado para levar o crédito ao micro, pequeno e médio comerciante a preços acessíveis, de forma rápida e sem tantas burocracias”, conta Antonio Carlos Borges, diretor executivo da Fecomercio.
A crise, apesar da escassez de crédito, ironicamente, ajudou a destravar projetos que há anos estavam para deslanchar. Muitos deles estão sendo consolidados neste ano. De janeiro para cá, a Fecomercio vem montando uma verdadeira operação de guerra. Fez parcerias com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Nossa Caixa Desenvolvimento e Caixa Econômica Federal. Além dos agentes financeiros, a Fecomercio negociou com empresas de consultoria de investimentos, como a Mazzo Projetos de Investimentos, sediada em Ribeirão Preto e escritório em São Paulo.
A empresa orienta gratuitamente os pequenos empresários sobre linhas de crédito. “Caso eles necessitem de um projeto de investimento para o crédito, temos um acordo com a Fecomercio que viabilizou um preço mais acessível aos associados”, informa Marcos Mazzo, sócio proprietário. A consultoria já realizou mais de 300 projetos e aposta na parceria que acaba de ser criada.
O passo seguinte da Fecomercio foi capacitar funcionários que, por sua vez, treinam pessoas dentro dos sindicatos, 90% deles instalados no interior de São Paulo. “Criamos uma espécie de escritório de informações para levar às empresas tudo o que elas necessitam para ter crédito. E crescer com ele”, enfatiza Borges.
A tarefa agora é informar. Para que tudo isso chegue ao público interessado, uma grande campanha foi criada para detalhar as linhas disponibilizadas pelos agentes. Em agosto, a Fecomercio realizou uma plenária, onde reuniu boa parte dos sindicatos associados. No encontro, a Federação lançou a cartilha “Crédito para o Comércio – BNDES”, onde, de forma simples e clara divulga as opções de crédito oferecidas pelo banco de fomento às empresas do comércio e serviços.
O BNDES é o maior parceiro até agora da Fecomercio. Além das seis linhas de crédito, uma para cada finalidade, os outros agentes parceiros também disponibilizam os recursos do banco de fomento. A carteira de pequenas e médias do BNDES foi a que mais cresceu no primeiro semestre, passando de R$ 7 milhões para R$ 10 milhões, principalmente disponibilizando o cartão BNDES. Para o setor de bens de capitais, o mais atingido pela crise, o banco passou a oferecer programas especiais. O BNDES estima desembolsar R$ 6 bilhões para capital de giro neste ano, apostando que em 2010 os bancos privados normalizem a oferta nesta linha para as pequenas, para que ele possa voltar a sua origem de fomento.
Para garantir empréstimos de investimentos financeiros às empresas menores, o BNDES criou o Fundo Garantidor de Investimento (FGI), que oferece 80% de cobertura e limite de garantia de R$ 10 milhões por beneficiário. O fundo tem parcerias com mais cinco grandes bancos. A operação começou com um total de R$ 700 milhões e nos próximos anos deve chegar a R$ 4 bilhões.
A crise também ajudou a criar novas opções de crédito, como a Nossa Caixa Desenvolvimento. Nascida em março deste ano, com recursos de R$ 1 bilhão obtidos pela venda da Nossa Caixa ao Banco do Brasil, a agência de Fomento do Estado de São Paulo começou a operar em julho na concessão de crédito para capital de giro para o setor de bens de capital.
Por não ter agências, a Nossa Caixa Desenvolvimento utiliza-se de parceiros como a Fecomercio para levar várias modalidades de crédito às pequenas empresas. A agência conta apenas com 60 funcionários, sendo 30% para a venda e 70% lutam para viabilizar as áreas operacionais, que ainda exigem todos os esforços para suportar o crescimento. “Já colocamos um edital na rua para contratar mais 50 funcionários”, informa Milton Luiz Melo Santos, presidente da Nossa Caixa Desenvolvimento
A missão da Nossa Caixa, como agência de fomento, é alocar recursos do acionista controlador, o Governo do Estado de São Paulo, em negócios que permitam aumentar o emprego e a renda. Entre os segmentos iniciais estão os de automação de escritório, máquinas e equipamentos, veículos utilitários e franquias. O objetivo é ofertar crédito com prazo mais longo e taxas mais acessíveis para a economia paulista e assim impulsionar o crescimento do PIB do Estado.
A primeira linha disponível foi a de capital de giro. O produto era prioritário diante da dificuldade das pequenas e médias em conseguir recursos nos bancos de varejo. “Temos a melhor taxa para capital de giro”, diz, exibindo um cartaz com 0,96% ao ano. A Agência também opera com uma linha para empresas com faturamento anual de até R$ 2,4 milhões, que conta com a garantia do Fundo de Aval Paulista, para financiamento de aquisição de máquinas e equipamentos, de veículos utilitários e abertura de franquias com taxa de até 1,3% ao mês. “São as garantias que dificultam muitas vezes que um pequeno empresário consiga o crédito, buscamos facilitar isso dentro do nosso programa.”
Em setembro, a Nossa Caixa foi autorizada a repassar os recursos do BNDES, com R$ 162 milhões para a linha Finame (máquinas e equipamentos), e para a linha PEC (capital de giro). Inicialmente serão destinados R$ 160 milhões, dos quais R$ 32 milhões já estão prontos para ser liberados, em duas linhas de financiamentos para empresas de pequeno e médio porte da indústria, comércio, serviços e agronegócio. “Pretendemos usar os recursos até o final do ano.”
As taxas para o Finame PSI são de 7% ao ano para equipamentos móveis e de 4,5% ao ano para demais equipamentos. Já na linha PEC, para capital de giro, as taxas são de 13,5% ao ano para pequenas e médias empresas e de 14% ao ano para as grandes. O valor mínimo do financiamento é de R$ 20 mil. Os financiamentos têm carência de até um ano, e mais dois anos para pagamento.
Com apenas cinco meses, a Nossa Caixa Desenvolvimento já concedeu R$ 65 milhões em financiamentos para 47 empresas de diversos setores produtivos de São Paulo. O segmento que mais tem demandado o crédito da Nossa Caixa é a indústria, principalmente a ligada ao setor automotivo. “Como se trata de um setor que gera muito emprego, foi o mais atendido até agora”, revela o presidente da agência de fomento paulista.
Aos poucos, outros segmentos se tornam alvo da Nossa Caixa, como supermercados e empresas de call center, pelo grande volume de empregos que geram, bem como a indústria de calçados, com uma importante cadeia produtiva espalhada por cidades do interior.
O volume de operações proporcionado por meio da Fecomercio não foi consolidado. “Até o fim do ano teremos um balanço para poder medir a eficiência desse balcão de crédito”, diz o diretor da entidade. “O objetivo é fazer dos sindicatos um esclarecedor do crédito.”