*matéria feita com exclusividade para a Revista Apólice – Setembro/2009
E agora, como fica o mercado de seguro de carro? Esta tem sido uma das perguntas mais pronunciadas desde o dia 24 de agosto, quando Porto Seguro e Itaú Unibanco anunciaram a criação da Porto Seguro Itaú Unibanco Participações (Psiupar), dona de 28% das vendas de seguros de carro no Brasil, com prêmios de R$ 2,2 bilhões no primeiro semestre deste ano.
O bom nesta história é poder trazer notícias boas aos leitores, que muitas vezes se queixam que a imprensa só divulga fatos negativos. “Todos ganharam com a Psiupar. Corretores, mercado e consumidores”, diz Leôncio Arruda, presidente do Sindicato dos Corretores de São Paulo (Sincor-SP). “Fico feliz de um conglomerado enorme do tamanho do Itaú Unibanco ter a política da Porto Seguro, que ficou no controle da operação de seguros de carro e de residência.”
Outro lado positivo citado por Arruda nesta negociação foi o Bradesco permanecer como uma opção a todos. “Foi uma vitória para todos nós que o Bradesco não negociou com a Porto Seguro. Se isto tivesse acontecido, sairia do mercado e todos nós perderíamos uma das poucas opções entre as boas seguradoras”, acrescentou Arruda.
Segundo comentou o presidente do Sincor-RS, Celso Marini, a preocupação com a associação entre Itaú Unibanco Seguros e Porto Seguros vem da redução do número de seguradoras no Brasil. “Por outro lado, temos o prenúncio de uma companhia muito forte, com grandes reservas técnicas e uma carteira operacional gigantesca. Em relação aos corretores de seguros, fica a esperança de que a nova companhia mantenha e amplie a política de parceria com nossa categoria”.
A consolidação é uma tendência neste mercado, com margens de ganho apertadas. “Ainda mais agora com a queda da taxa de juros, que proporcionava boa parte dos ganhos na carteira, a escala é uma questão de sobrevivência para manter a rentabilidade neste segmento”, diz o consultor Roberto Castiglione.
Hoje, as dez maiores seguradoras de automóvel do País detém 91% das vendas. Segundo dados da consultoria Siscorp, os prêmios de seguro de carro somaram R$ 8 bilhões no primeiro semestre, sem considerar o DPVAT. Desse valor, a Psiupar tem 29%, seguida pela Bradesco (13%), SulAmérica (12%), Liberty (8% ), Mapfre ( 8%), HDI (6% ), Allianz (6%), Brasilveículos, parceria entre Banco do Brasil e SulAmérica (5%) e Tokio Marine (4%). ”Ficou mais apertado para os que disputam o setor. A liderança está em quem negocia através do corretor de seguros, como Porto Seguro e Bradesco. O BB é outro que promete ter o corretor como parceiro. Vamos ver”, comenta Leôncio Arruda.
Segundo Farid Eid , diretor da Alfa Seguradora, a recente associação gerou de fato uma grande empresa do setor, com o expertise da Porto mais o grande balcão do Itaú Unibanco a sua disposição para fazer o que bem entender. “Mas nós acreditamos que as seguradoras de pequeno e médio porte, assim como a Alfa, sofrerão menos o impacto, se comparadas aos grandes players, por estarem firmes na operação com alguns corretores de seguros e principalmente por terem escolhido nichos específicos de mercado”.
Na busca por escala, o Brasil registrou várias negociações nos últimos meses. Liberty com Indiana, Yasuda com Marítima, Zurich com Minas Brasil. Para tornar o cenário ainda mais desafiador, outras tantas negociações estão em andamento, como a Tokio negociando com o Santander e o Banco do Brasil que vem com força total.
O maior banco do Brasil, controlado pelo governo, promete para o mês de setembro um “terremoto” na indústria de seguros com a divulgação que pretender fazer sobre as parcerias que desenha há quase dois anos para ganhar a liderança do mercado. Oficialmente, executivos do BB confirmam que há conversas com SulAmérica e Mapfre, mas levantam a dúvida sobre outros interessados envolvidos na engenharia financeira conduzida pelo UBS Pactual.
Apesar de ter uma participação insignificante em automóvel, o BB, assim como a Caixa Econômica Federal, outro grande player, deverão trazer mudanças significativas no seguro de carro em razão da mudança de estratégia do banco. Até antes da crise financeira, a Caixa focavam suas atividades em áreas sociais do governo, como habitação, e o BB ensaiava entrar no financiamento de carros. Mas com a crise financeira, ambos passaram a comprar carteiras de bancos médios que enfrentavam dificuldades, reforçando a área de crédito para a compra de veículos.
Em agosto, a Caixa lançou uma forte campanha de financiamento de carros em concessionárias no interior de São Paulo. A curiosidade é quem será a parceira da Caixa em seguro de carro, até pouco tempo atrás uma operação pequena no banco oficial. E falando em carros novos, vale lembrar que o Itaú Unibanco tem a maior carteira de crédito para veículos do Brasil, com quase R$ 50 bilhões no final de junho deste ano.
Por isso, quem imaginava que a concorrência na venda de seguro de carro estava em seu pico máximo, vai se surpreender daqui para frente. “Acredito que perderei noites de sono para dar o lucro que o Itaú espera desta negociação”, comentou Jayme Garfinkel, presidente da Porto Seguro. Esta frase sinaliza que a briga será intensa, uma vez que o ganho da negociação já é certo.
Além de conquistar uma carteira de bom tamanho, Jayme Garfinkel ainda ganhou uma rede de distribuição de mais de 4,5 mil pontos, tem a confiança dos corretores e a perspectiva de internacionalização junto com os planos do Itaú. Além disso, a negociação agregou valor para as ações, uma vez que a expectativa de ganhos de sinergia, pelo mercado, seja em receita ou despesa, supera R$ 404 milhões. Se Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco, quer mais do que isso, a pressão por custos e gestão na carteira de automóvel será maior do que qualquer um previu até agora.
Para o consultor Flávio Faggion, diretor presidente da Siscorp, especializada em seguro, os efeitos práticos da associação demorarão um pouco para ser sentidos pelos corretores e consumidores. Vale lembrar que a operação ainda tem de ser aprovada pelos órgãos reguladores. A previsão é de que isto aconteça ainda neste ano para que a Psiupar possa iniciar 2010 em plena operação.
“A Porto terá que pensar numa estratégia de preços dos seguros vendidos pelos corretores e aqueles vendidos nas agências do Itaú. Acredito que vai haver certa homogeneização”, diz Faggion. Segundo ele, os concorrentes ficarão muito atentos no comportamento da Porto e é muito provável que as seguradoras tomem atitudes mais agressivas do que vem fazendo até hoje. “Se esses movimentos forem na linha de redução de preço, estratégia sem grandes expectativas, poderá representar algum aumento do tamanho do mercado, mas mesmo assim não muito significativo.”
Outra boa notícia para os corretores. Apenas um terço da frota brasileira de veículos está segurada. Há muitos consumidores para serem conquistados. Ainda mais se levarmos em conta o potencial de venda de carros no Brasil. O mercado brasileiro possui 7,4 habitantes para cada veículo em circulação, enquanto o México tem 4,1 habitantes e a Argentina, 4,8. Um mercado e tanto.