A crise começa a fazer suas vítimas na indústria de seguros. Dois produtos financeiros, seguro garantia e de crédito, começam a enfrentar dificuldades. Depois de vivenciar dois anos de farta capacidade e taxas baixas, a atual realidade do seguro garantia é de redução de investidores interessados e aumento da sinistralidade, que já começa a ser sentida pelo consumidor brasilero. “Garantia é um segmento que tem forte dependência do resseguro e por isso sofre com o cenário externo”, disse Alexandre Malucelli, presidente da JMalucelli Re durante sua palestra no VIII Encontro Anual do Comitê do Setor Elétrico, realizada em Belo Horizonte entre os dias 2 e 4 de junho e promovido pela Associação Brasileira de Gerenciamento de Risco (ABGR).
A consequência é o aumento do preço, maiores exigências de garantias e informações ainda mais detalhadas dos riscos. “Está é a realidade que pude constatar nos últimos dias. A crise afetará o segmento no Brasil. Mas também é correto afirmar que este cenário desafiador nos traz muitas oportunidades”, disse ele para uma platéia responsável pelo maior número de projetos de infra-estrutura para serem aprovados no Brasil, durante o VIII Encontro Anual do Comitê do Setor Elétrico, realizado em Belo Horizonte entre 2 e 4 de junho.
Já o seguro de crédito, cujo efeito é mais imediato do que o de garantia, deverá passar por uma forte reformulação. As seguradoras de crédito enfrentam sérios problemas com a inadimplência na crise. Segundo Malucelli, durante suas conversas com resseguradores a sobrevivência do seguro de crédito é muito questionada.
“A imagem que ficou foi de ter a seguradora como um guarda chuva que quando começou a tempestade a companhia o pegou de volta e fechou”. Os governos da França, Espanha e Inglaterra criaram linhas para socorrer as empresas diante deste cenário, evitando assim o corte das linhas de crédito, sem muito sucesso. O resultado é uma ampla discussão sobre como ficará este segmento nos próximos anos.
No garantia, a crise tem um efeito mais retardado, porém será sentido com mais ênfase no segundo semestre. Empresas boas enfrentam dificuldade de liquidez, o que deverá se normalizar no próximo ano. “Hoje o que vemos são empresas pequenas obtendo a cobertura por estarem dentro dos limites dos contratos automáticos. Já para grandes projetos as taxas estão mais elevadas e mesmo assim faltam recursos para prover a capacidade”.
Tentar projetar um futuro por enquanto ainda é uma missão quase impossível. Para Malucelli, o futuro próximo destes dois segmentos de seguro é de consolidação, reduzindo o número de concorrentes. “Já vemos muitos efeitos em diversas áreas com a falta de cobertura para projetos importantes”.
Segundo ele, as companhias ficarão ainda mais seletivas em razão da lucratividade ter de vir do operacional, uma vez que do financeiro será difícil, com taxas de juros declinantes e investidores com aversão a risco neste momento. Os bancos começam a voltar a competir com o seguro garantia ofertando fiança bancaria. “Esses fatores criam um cenário desafiador e cheio de oportunidades”, conclui Malucelli.
*a jornalista viajou a convite da Mapfre Seguros