O impacto da crise no mercado internacional*

images93Acostumadas a exibir índices de faturamento e de rentabilidade crescentes nos últimos anos, as resseguradoras e seguradoras internacionais terão de suar a camisa para apresentar bons resultados neste ano – principalmente enfrentando um cenário em que a taxa de juros é declinante, o volume de pedidos de indenização ascendente e o mercado acionário, ainda volátil.

“Em 2008 os resultados já não foram bons. E em 2009 veremos balanços ainda ruins”, diz David O’Brien, vice-presidente sênior de Desenvolvimento de Negócios Internacionais da Transamérica-Re, resseguradora especializada em vida, registrada no Brasil como admitida. O pessimismo de David O’Brien tem coro internacional. “Seguradoras e resseguradoras que nunca haviam apresentado perdas foram atingidas nesta crise”, diz Graham Clarke, CEO mundial da Miller Insurance (foto), uma das maiores corretoras de resseguros do Reino Unido, durante visita ao Brasil.

Este cenário vale tanto as empresas que atuam no segmento de vida (life) como em ramos elementares (property & casualty). As consequências da crise financeira internacional, desencadeada pelos Estados Unidos e que já atingiu vários continentes, afetam o balanço das seguradoras em diversos itens, desde o patrimônio das companhias com ações em bolsa – pela acentuada queda do valor dos ativos – até o índice combinado. “A performance das ações das seguradoras de vida tem sido negativa e bem pior do que a média de mercado”, ressalta David O’Brien.

Além dos impactos financeiros, as seguradoras de ramos elementares desembolsaram elevados volumes de indenizações decorrentes da crise, com os pedidos de ressarcimento com apólices de Directors & Officers (D&O), e também para repor prejuízos causados por eventos naturais, o terceiro maior ano em perdas dos últimos tempos, com cerca de US$ 80 bilhões em indenizações, segundo estudo da resseguradora Munich-Re.

Os executivos acreditam em novas notícias negativas sobre dificuldade de instituições financeiras e empresas até o final do ano. Para David O’Brien, o grande desafio das seguradoras será o de manter as vendas elevadas para ter rentabilidade dentro do custo administrativo necessário para retomarem o crescimento com o fim da crise, previsto para 2010 – o que significa ter balanços sólidos. A busca de market share por guerra de preço ou taxas de juros com ativos e passivos descasados, para atrair os detentores de apólices de acumulação de recursos, pode acarretar o rebaixamento de rating pelas agências de classificação. “Sem rating, os corretores deixam de recomendar a seguradora para seus clientes”, afirma.

Este cenário difícil poderá estimular as vendas de resseguro, bem como fusões e aquisições. De 2000 a meados de 2008, explica David O’Brien, as seguradoras buscaram recursos via mercado acionário para se capitalizarem. Até então a opção era a compra de resseguro financeiro para terem índices de alavancagem de acordo com o nível permitido pela regulamentação de solvência. “Como o cenário não é apropriado para emissões em razão dos elevados spreads, a demanda por resseguro tem aumentado”, disse.

E o Brasil? Os estrangeiros entrevistados vieram ver de perto como vai este País que não entrou em recessão no rastro de economias fortes como Estados Unidos, Inglaterra e Japão. Todos reconhecem que o Brasil está muito bem posicionado para enfrentar a crise – seja em termos macroeconômicos ou solvência do sistema financeiro. “Os fundamentos econômicos são sólidos e muitos investimentos têm a promessa de manutenção do Governo como forma de estimular a economia”, diz Benjamin Gentscht, executivo responsável pela área internacional de property & casuality da Scor-Re, quinta maior resseguradora do mundo.

As seguradoras têm seus ativos aplicados em títulos do governo brasileiro, com juro real de 6,5% ao ano, uma das mais elevadas taxas do mundo. E também está livre de catástrofes naturais de grande porte. O País ainda teve o benefício da abertura do resseguro em abril de 2008, que atraiu investimentos de mais de 80 estrangeiros desde então.

Apesar da forte concorrência, as seguradoras brasileiras pulverizam o risco em todo o mercado internacional. Em grandes riscos, o mercado internacional é quem dita o preço do seguro por ficar com a maior parcela do contrato. Sendo assim, o impacto aqui será sentido.

A abertura trará novos produtos e serviços, com certeza, além de novas tecnologias para gestão de riscos. Porém, a manutenção de preços menores com coberturas abrangentes ainda é uma incógnita, segundo a avaliação de diversos executivos reunidos na I Conferência Brasileira de Resseguros, realizada no Rio de Janeiro, no início de março. “Capital escasso, perdas e recessão, redução do volume de contratos – é um cenário propício para a alta de preços e severidade na negociação de coberturas”, explica Paulo Pereira, presidente da Associação Brasileira de Resseguradores (Aber) e representante da Transatlantic-Re no Brasil.

Eduardo Nakao, presidente do IRB Brasil Re, que tem concentrado boa parte dos negócios de resseguros no País, também está reticente quanto a manutenção da queda dos preços, mas aposta no crescimento e prevê prêmios de resseguros de cerca de US$ 2 bilhões para os próximos dois anos. “O setor deve crescer mais que o PIB, principalmente por dois aspectos: a inovação de produtos a serem oferecidos pelos resseguradores no ambiente concorrencial e a demanda de empresários por redução de riscos”.

É um momento e tanto para o Brasil. Principalmente porque o Governo estima investimentos públicos e privados próximos de R$ 600 bilhões dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) até 2010. E esses projetos precisam de seguro e de resseguro para se tornarem sustentáveis.

*Matéria produzida para a Revista de Seguros, da CNSeg, edição janeiro, fevereiro, março/2009

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

1 COMENTÁRIO

  1. Enhorabuena por el nuevo e9xito electoral, que ha sido e9xito tuyo psorenal y un merecido reconocimiento a tu labor en este pueblo en el que vivo desde hace ya,, unos cuantos af1os. Gracias por las cosas que has hecho por nosotros, por med y mi familia en concreto, oponie9ndote en buena medida a muchas personas, pero haciendo lo que considerabas siempre justo y comedido, como tambie9n por todos los vecinos del pueblo, que deseen o no reconocerlo, se han beneficiado de tus logros y tu buen saber hacer para con [email protected] deseo lo mejor y muchos af1os de nuevas alegredas-Una vecina de Obanos

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