Furnas Centrais Elétricas, geradora de energia que atende o Sudeste e o Centro-Oeste do País, está envolvida em grandes projetos de investimentos que vão garantir o crescimento sustentável do Brasil. E a área de seguros está envolvida em todos os projetos. Entre os principais está o Projeto Rio Madeira, que contempla a construção da Usina de Santo Antônio e Usina Jirau, as maiores usinas do mundo. Só a Usina Santo Antonio conta com investimentos superiores a R$ 10 bilhões. Sem contar os projetos em que está envolvida dentro do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Carlos Henrique Ribeiro Virgilio de Carvalho, gerente da divisão de seguros de Furnas, Coordenador do Comitê de Gerenciamento de Riscos Seguráveis da Fundação COGE, onde fazem parte 63 empresas do setor elétrico brasileiro, e membro da Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR), concedeu a seguinte entrevista a revista Gerencia de Riscos e Seguros, do grupo Mapfre, à jornalista Denise Bueno.
Em quantos projetos dentro do PAC Furnas está envolvida?
Estamos envolvidos com a construção de sete usinas, sendo as principais a Rio Madeira e a Jirau. Duas são totalmente de Furnas e cinco serão construídas em parcerias.
Quem concentrará o gerenciamento de risco de todo este investimento em novos projetos?
O departamento de seguros de Furnas vai participação das discussões sobre seguro em todos os empreendimentos visando formas de mitigar o risco e proteger o patrimônio do acionista.
Em quais projetos o departamento de seguros já está trabalhando?
O Projeto do Rio Madeira é o que tem nos demandado maior trabalho por enquanto. Furnas já discute o projeto há quatro anos e o departamento de seguros passou a fazer parte dos comitês há dois anos.
Estar envolvido no Projeto Madeira é um grande desafio, não?
Sim, é. Ao mesmo tempo em que este desafio é enriquecedor, teremos de empreender um bom tempo no desenho do melhor programa de gerenciamento de risco para garantir a sustentabilidade do projeto.
Pode nos dar uma noção do tamanho deste empreendimento?
Estima-se que a primeira e segunda unidades geradoras, das 44 previstas, devam entrar em funcionamento em dezembro de 2012. A obra empregará até 20 mil trabalhadores diretos no seu momento auge. As turbinas utilizadas em Santo Antônio serão as maiores em potência nominal no mundo: cada uma terá capacidade de gerar 72 megawatts. E tudo isso dará traz um trabalho extra para a equipe de seguros.
Que tipo de trabalho já foi feito pelos técnicos de seguro no Projeto Madeira?
Já trouxemos vários deles para conhecer a obra e o projeto. Eles também visitaram o modelo reduzido da Usina de Santo Antonio, que foi criado no laboratório de Jacarepaguá, no Rio. Algumas exigências foram feitas e várias discussões já tiveram início para conseguirmos coberturas adequadas. Traçaremos conjuntamente um programa de gerenciamento de risco.
Quando estará pronto este programa de seguro?
A previsão é visitar a obra em março de 2009, quando teremos um cenário mais propício para analisar os riscos. A partir do levantamento técnico apresentaremos um plano que será feito em parceria com uma empresa inglesa especializada em gerenciamento de risco. Com este plano, poderemos detalhar o programa de seguros, com riscos, franquias e coberturas necessárias para proteger o patrimônio do acionista.
Qual o principal risco do Projeto Madeira?
Para a Usina Santo Antonio o risco ambiental é um fator importante. Há uma grande aérea desmatada. O risco político também tem um ingrediente a mais, em razão da divisa com países vizinhos, no caso a Bolívia.
Quais são os riscos administrados hoje pelo departamento de seguro de Furnas?
Furnas tem hoje 12 usinas e 48 subestações. Temos também dois laboratórios, um em Goiânia e outro em Jacarepaguá que estão segurados. Também fazemos o seguro de despacho de cargas, seis almoxarifados e quatro escritórios de representação: Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte.
Que tipos de seguros contrata?
Os riscos inerentes à sua atividade operacional, como danos elétricos, explosão e incêndio. Com a recente inclusão de Furnas como empresa participante do PAC, a empresa, ultimamente, também tem lidado com riscos de engenharia, obra civil construção, instalação e montagem e responsabilidade civil geral.
Quais riscos Furnas transfere para seguro e quais assume?
Os riscos transferidos através de seguro, são incêndio, dano elétrico e explosão. Porém, cabe ressaltar que estes riscos não são transferidos em sua totalidade, cabendo a Furnas uma participação através de franquia. Os riscos de responsabilidade civil, ambientais e de vendaval são assumidos pelo grupo no que diz respeito ao patrimônio. Já no Projeto Madeira a política de riscos é diferente.
As linhas de transmissão e barragens estão seguradas?
Não. Para as linhas de transmissão optamos por fazer o gerenciamento de risco.
Por que?
Existe no mercado a cobertura para transmissão, mas optamos por fazer um gerenciamento de risco neste segmento. As quedas de rede são pontuais em função dos ventos. Temos 20 mil quilômetros de linhas de transmissão e esses problemas afetam uma pequena parte. Para fazer o seguro, teríamos de fazer de toda a extensão, gerando um custo elevado.
Há um departamento de gerenciamento de risco?
Furnas não tem um departamento de gerenciamento de riscos. Este trabalho é coordenado pela divisão de seguros, subordinada a Diretoria de Gestão Corporativa, e tem a participação do Comitê de Seguros, composto por representantes de todas as diretorias da empresa.
Como tem conseguido reduzir riscos?
Inicialmente, através de inspeções rotineiras nas áreas operacionais. Estas inspeções geram relatórios de análise de risco onde são identificados e avaliados os riscos inerentes à atividade. Além daqueles que já fazem parte das atividades de Furnas, também são identificados e avaliados outros riscos que, por sua natureza, possam expor os ativos de Furnas. Os relatórios são encaminhados ao Comitê de Seguros e, a partir daí, são traçadas as diretrizes para mitigação dos riscos.
No caso das linhas de transmissão e barragens. O que foi sugerido?
A melhor alternativa foi ter caminhões com equipamentos especializados para levantamento de torre. Assim que há uma queda, ele é acionado e a energia é recomposta rapidamente.
Como Furnas tem lidado com os riscos ambientais?
Furnas possui uma política muito rígida de prevenção ambiental no sentido de mitigar e controlar possíveis danos ambientais. No caso das usinas do Madeira, há uma empresa especializada apenas para estudar este assunto.
Como a sustentabilidade afeta o departamento de seguros?
Em vários aspectos, principalmente porque um risco pode colocar em risco vários aspectos da empresa, tanto financeiro, como de imagem ou operacional. Mas um exemplo prático foi a estréia das American Depositary Receipts (ADR) da Eletrobrás na Bolsa de Nova York (NYSE). Foi formado um comitê em Furnas em razão disto e apólice de riscos operacionais foi solicitada. Como ela contempla aspectos ambientais, foi aceita sem qualquer recomendação.
Como surgem as idéias para prevenção?
As idéias preventivas surgem no decorrer das inspeções de risco e na elaboração dos relatórios que são confeccionados com a participação dos engenheiros de manutenção, de operação, de segurança, além dos técnicos da Divisão de Seguros.
Quais têm sido os resultados obtidos?
Atualmente a empresa conhece mais detalhadamente os riscos aos quais está exposta, bem como as medidas de mitigação adotadas para a redução destes riscos, tanto em sua freqüência como em suas conseqüências. Como resultado, Furmas possui, hoje, a menor taxa de risco dentre as empresas do setor elétrico.
Você conseguiu uma boa negociação em 2008. Como foi negociar num mercado aberto de resseguro?
Para nós foi bom. Conseguimos redução no preço e ampliação das coberturas.
Nosso volume de prêmio no contrato renegociado em agosto de 2007 foi de R$ 15,6 milhões e em 2008 conseguimos reduzir o valor para R$ 11,9 milhões. As coberturas melhoraram bastante e a franquia agregada passou de R$ 40 milhões para R$ 15,5 milhões.
Quais as vantagens da abertura do resseguro?
Entre as principais vantagens temos a chegada de novos produtos, uma melhor qualificação técnica e uma possível redução tarifária com base na inédita concorrência no mercado brasileiro.
Quais são os principais desafios do gerente de risco com a volatilidade mundial causada com as incertezas sobre o crédito e o clima?
O maior desafio é buscar o equilíbrio entre os prováveis aumentos de taxa de seguro e resseguro e as medidas internas do segurado para uma melhor qualificação dos seus riscos buscando melhores preços através de uma retenção, cada vez maior, do risco, assumindo uma franquia maior.
Quais os critérios para contratar resseguro num mercado aberto e diante da crise internacional?
Furnas, na qualidade de grande compradora de seguros, procura estreitar os relacionamentos com todo o mercado, seja com seguradores ou com corretores de resseguro, objetivando uma constante troca de informações e experiências.
Acredita que a crise financeira internacional reverterá este ciclo de contratação de 2008, com preços menores e coberturas ampliadas?
Com certeza. Esperamos para 2009 um mercado bem mais difícil de obter coberturas. Manter os prêmios no mesmo nível de 2008 é um grande sonho.
Matéria veiculada na Revista Gerencia de Riscos e Seguros, editada pelo Grupo Mapfre – 2009