D&O: cresce o interesse e taxas recuam

A crise americana com créditos hipotecários de alto risco, conhecida como subprime, já traz efeitos para o seguro de responsabilidade civil de executivos, conhecido como Directors & Officers (D&O). Segundo Enrico Nanni, diretor-executivo da divisão Aon Network Solutions, do grupo Aon, dono de uma das maiores consultoras de seguros do mundo, 47 empresas avisaram que acionistas questionam judicialmente a responsabilidade dos executivos diante das milionárias perdas divulgadas até agora, superiores a US$ 200 bilhões.

“Acredito que haverá uma pressão para a subida do preço nos próximos meses mas, para empresas fora do mercado financeiro, essa tendência não deverá se consolidar, permanecendo o ciclo de taxas decrescentes”, disse Nanni, durante a 10ª Conferência Latino Americana de Seguros em Energia, promovida entre 10 e 12 deste mês, em Buenos Aires.

Eduardo Pitombeira, responsável pelos seguros financeiros da Zurich na América Latina, as instituições financeiras já encontram dificuldades para negociar suas apólices de responsabilidade civil do executivos, onde investidores questionam a perda de rentabilidade; de D&O, contra ações de acionistas; e de fraude, onde a beneficiária é a instituição financeira. “Além da crise do subprime, temos o choque de credibilidade que veio à tona com a fraude do Société Générale. As várias leis internacionais exigidas pelos órgãos reguladores para controlar riscos de gestão se mostraram frágeis e isso pode gerar uma revisão no cálculo do preço do seguro com o agravamento do risco. Se um grupo do porte do SocGen registrou perdas de US$ 4,9 bilhões, outros podem estar oferecendo o mesmo risco para o setor de seguros”, explica Pitombeira.

A situação fica ainda mais grave com as perspectivas de que o prejuízo com o subprime pode chegar a US$ 600 bilhões, segundo divulgou a agência Fitch. Entre as seguradas que já reportaram avisos que seus executivos foram intimados pela Justiça, 25 são do mercado financeiro. Além de cobrir o valor indenizatório determinado pela Justiça, desde que o executivo não tenha agido de ma fé, o seguro de D&O cobre custas judiciais e adianta valores financeiros para que o empresário possa ter dinheiro para as contas cotidianas caso seus bens sejam apreendidos.

Nanni, da Aon, informou em sua palestra que a crise do subprime ainda deve trazer mais acionamentos nos Estados Unidos. “Esse movimento não deverá agravar os preços do seguro em países da América Latina, onde México e Brasil são os maiores compradores do produto, pois há muita oferta de capacidade”, disse. Segundo o executivo, é possível achar com facilidade no mercado de resseguros capacidade de US$ 300 milhões por risco a um preço razoável.

O temor das seguradoras é ter um ano como no início do século 21. As maiores perdas em D&O foram iniciadas com a quebra da Enron, que gerou acordos com acionistas de US$ 7,1 bilhões. A WorldCom é a vice líder em indenizações, com US$ 6,1 bilhões. A Cedant gerou indenizações de US$ 3,5 bilhões.

As empresas que mais contratam o seguro de D&O são aquelas que negociam seus papéis no mercado acionário. Os Estados Unidos são os campeões em compra de D&O nas Américas. As empresas latinas que negociam ADR na bolsa de valores americana ocupam a segunda colocação no ranking do segmento. “Tem sido uma carteira tranqüila, com pouquíssimos acionamentos em países da America Latina. E por isso, acredito que o preço continuará com margens para negociação”, aposta Nanni, da Aon.

No Brasil, que até o momento não tem qualquer reflexo das crises, a procura pelos seguros tem crescido nos últimos anos. Principalmente agora que o Banco Mundial passou a reduzir significativamente a taxa de juros em empréstimos às instituições que têm essas apólices”, diz.

Marcelo Neves, diretor da OCS, corretora de seguros cativa do grupo Odebrecht, aposta na tendência de baixa das taxas. “Não há subprime no Brasil e por isso não há porque pagarmos a mais por um risco que não oferecemos”, argumenta o dono de uma das maiores apólices de seguros do Brasil.

Segundo dados da Susep organizados pela consultoria Siscorp, o seguro de D&O movimentou prêmios de R$ 96,4 milhões em 2007, alta de 9,3% em relação a 2006. A Unibanco AIG é a maior do Brasil, com prêmios de R$ 42,4 milhões. A Chubb é a segunda maior, com R$ 12,3 milhões, seguida pela ACE (R$ 11,6 milhões), SulAmérica (R$ 10,5 milhões), e Itaú XL (R$ 8,4 milhões)

*Matéria da autora publicada na Gazeta Mercantil

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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