O microsseguro virou a bola da vez para governos e executivos de seguros dos países pobres e dos emergentes. Mundialmente, o assunto ganhou mais força depois de Mohammed Yunus e Grameen Bank serem premiados com o Nobel da Paz em 2006 por desenvolverem ferramentas para impulsionar a microfinanças, onde está inserido o microsseguros. No Brasil, até mesmo o presidente Lula notou que as pessoas de menor renda estão consumindo. “Essas pessoas estão tendo uma ascensão na sua vida social, estão virando consumidores, o que é uma coisa extremamente importante. Quem está indo no shopping percebe que o povo pobre está comprando”, disse ele no programa de rádio “Café com o Presidente”.
Mas, afinal, o que vem a ser microsseguro? “A definição que mais gosto é pela condição social do segurado e não pelo produto oferecido, que abrange da classe C até a E. Nesta faixa, há microsseguros sociais, como o Bolsa Família, e aqueles complementados pela iniciativa privada, como o auxílio funeral, por exemplo”, explica Antonio Cássio dos Santos, presidente da Mapfre, da FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência e Vida) e líder do comitê recentemente criado pela Fenaseg (Federação das Seguradoras) para estudar o assunto. E microsseguro não é filantropia. “É uma oportunidade de inserção social ou manutenção do estatus obtido pela pessoa de menor renda, com rentabilidade para os operadores. As seguradoras lucram com o produto.”
Para José Rubens Alonso, sócio da KPMG especializado em seguros, atingir esses novos consumidores é uma forma que o setor, em todo o mundo, tem para crescer tendo em vista a maturação dos gastos medida pelo consumo per capita no PIB.
A demanda maior da população pobre é por produtos de saúde e vida, seguida pelo seguro do imóvel e cobertura em caso de morte acidental e invalidez, segundo o estudo da MicroInsurance Centre. Entre as quase 80 milhões de pessoas atendidas por microsseguros em todo o mundo, 6,8 milhões são pessoas em saúde, 35,3 milhões em vida, 12,6 milhões para acidentes e invalidez e 7,8 milhões com apólices de residência. O mercado potencial é cerca de 30 vezes maior para todos os produtos.
Tal projeção explica o interesse pelo microsseguro. Os pobres representam a maior parte da população nos países emergentes. Tirá-los da linha de pobreza é um sonho que poucos governos conseguem realizar de fato. E quando conseguem, querem mantê-los nesse patamar para que eles deixem se ser um custo para o Estado e passem a contribuir para a riqueza nacional. E um seguro que ajude a manter a qualidade de vida conquistada por essas pessoas é visto como um dos pilares das estratégias governamentais.
Segundo discurso do ministro das Finanças da Índia, Mr. Sri P.
Chidambaram, durante a Conferência de Microsseguros realizada em outubro, “um dos pilares do forte crescimento da economia do país está em levar ferramentas financeiras às pessoas pobres e o microsseguro é uma delas”. Na Índia, o potencial é estimado em 250 milhões, ou seja, 3% da população pobre do mundo.
No Brasil, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, colocou o seu ministério à disposição dos responsáveis por desenvolver o microsseguro. “O governo é parceiro desta idéia. Nós gostaríamos de ter sugestões de como regulamentar, como implementar, porque temos certeza que a população quer um produto como esse”, disse em evento da Fenaseg.
Para a iniciativa privada, o interesse vem pela inserção de novos consumidores no mercado de seguros, item fundamental para o crescimento do setor. Por isso, as seguradoras buscam identificar tudo que causa aflição nas pessoas para criar produtos. Não ter condições de pagar um enterro digno a um parente. Perder a casa, o emprego. Se machucar e não ter como trabalhar e manter a família. A aflição de pagar as contas do dia-a-dia. Para todas essas situação há um seguro.
Mas, para que o microsseguro seja ofertado em escala, será preciso superar várias barreiras. Entre elas o desenvolvimento de canais de venda baratos, de produtos adequados. Outras barreiras estão relacionadas à percepção das pessoas a respeito de seguro em geral. No Brasil é preciso criar uma regulamentação. “Ela não pode ser tão rígida para poder baratear o custo. Por outro lado, é preciso ter um controle rígido das companhias, pois um problema com solvência poderá deixar milhões de pessoas sem cobertura”, diz o presidente da FenaPrevi.
*Matéria da autora publicada na Gazeta Mercantil em 26/12/2007