Otimismo moderado. Essa é a palavra chave que define o clima na Coface do Brasil, maior seguradora de crédito do Brasil, segundo a CEO Marcele Lemos. “A política descolou da economia como mostram alguns indicadores, como a queda da inflação e crescimento de setores como varejo e turismo. Ainda temos um quadro instável na política, com delações e falta de definição na corrida presidencial. Mas as empresas se agarram a essa pequena melhora que os indicadores trazem no primeiro trimestre e isso traz otimismo de que o Brasil está começando a deixar a crise para trás”, disse ela em entrevista ao blog Sonho Seguro.
Com esse pano de fundo, a expectativa de Marcele para 2017 é de que a Coface, que detém 30% de market share no segmento de seguro de crédito interno no Brasil, alcance crescimento de 15%, e se consolide nos próximos anos com a perspectiva de um ciclo econômico virtuoso para o Brasil. “A partir de setembro esperamos sinais mais encorajadores da melhora do cenário econômico”, diz. AIG, Credito Caucion, Euler Hermes, Cesce, Chubb e QBE estão entre as principais concorrentes do grupo francês.
Quando o cenário econômico começou a dar sinais de desestabilização no final de 2014, a Coface estava em seu melhor momento de venda de seguro de crédito. Com a degradação da economia e consequentemente das empresas que engordaram as estatísticas de inadimplência, a Coface registrou um elevado índice de sinistralidade em 2015, de 135%, bem superior ao ponto ideal de 100%, para honrar os contratos vendidos. Em 2016 foi um ano de arrumar a casa, com a sinistralidade já em 63%, ampliar a equipe de subscritores, refinar os mecanismos de gestão de riscos e inovar em produtos.
Em 2017, com uma sinistralidade negativa por conta da recuperação das garantias dos sinistros pagos, é hora de colher os frutos de todo o trabalho feito anos atrás na divulgação da cultura de crédito interno aliado a retomada economia. Entre os principais segmentos de clientes, Marcele cita o farmacêutico, alimentício, celulose e energia limpa.
“Toda a crise que vivemos, com a inadimplência batendo recordes, ajudou a desenvolver as empresas a desenvolverem uma nova percepção do risco de crédito no Brasil. Grandes clientes tiveram dificuldades, o que sinalizou aos empresários que o risco de crédito é um fato até mesmo em empresas longevas. Hoje o produto já tem uma demanda grande, diferente de anos atrás que tínhamos de dispender um grande esforço na divulgação”, comenta ela, que é uma das raras mulheres em cargo de CEO em seguradoras no Brasil.
Outro ponto que anima Marcele é a notícia de que o governo vai enviar em junho ao Congresso Nacional o projeto de uma nova lei de recuperação judicial para as empresas. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, comentou em entrevista a jornalistas que prevê a redução para dois anos, em média, de todo o processo de recuperação judicial. Hoje, esse tempo pode chegar a sete ou oito anos. O projeto de recuperação judicial encabeça a lista das próximas medidas do Plano de Reformas Microeconômicas que serão adotadas pela equipe econômica para aumentar a produtividade do Brasil e garantir o crescimento do PIB.
“O projeto dará mais poderes aos credores, viabilizando a negociação de ativos das empresas, além de regular melhor a sucessão empresarial e isso pode ajudar muito o segmento de crédito interno que poderá reaver o crédito mais rápido e também inibirá empresas que não estavam tão problemáticas a aderir a recuperação judicial para ter vantagens como renegociar dívidas com deságio com seus credores”, diz.
Dados da Susep revelam que o segmento de crédito movimentou no Brasil em 2016 cerca de R$ 300 milhões em prêmios, o que significa uma ínfima penetração no Brasil se comparada a países como Estados Unidos, França e Espanha, líderes de vendas deste tipo de produto. No entanto, isso não quer dizer que se venderá o seguro a qualquer preço para ganhar mercado. “Estamos muito criteriosos na concessão de apólices”, cita, afirmando que a conversão de vendas chega a 45% do total de demanda por seguro de crédito.
Marcele está de olho nas inovações que chegam ao mercado com as start-ups que invadem o mundo financeiro e de seguros. “Pensamos em aplicativos que facilitem a vida do cliente e agreguem valor ao nosso dia a dia”, disse. A Coface atua em mais de 100 países e detém 47% de Market share na América Latina. Marcele está na Coface há 18 anos e desde 2011 como CEO do grupo, que também tem 75% de participação na Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação.